Com o aumento de pessoas com covid-19 – atingiu-se
recentemente novo recorde de novos casos por dia –, a Alemanha decretou nova
quarentena parcial. “Precisamos agir agora”, disse a chanceler Angela Merkel,
ao anunciar a medida no dia 29. Caso se mantenha o atual ritmo de contaminações
no país, o sistema de saúde pode “atingir o limite de sua capacidade dentro de
semanas”, afirmou.
A princípio, a nova quarentena tem um mês de duração. Foi
decretado o fechamento de restaurantes, bares, academias, teatros, cinemas e
piscinas. Escolas e lojas poderão funcionar, desde que respeitadas as regras de
distanciamento social e higiene. Reuniões privadas poderão ter até dez pessoas,
provenientes de duas residências diferentes, no máximo. Shows e eventos
similares também foram proibidos, e os eventos esportivos profissionais não
poderão ter a presença de espectadores.
É interessante notar que, mesmo com a esfera estadual
dispondo de ampla autonomia na Alemanha, o governo central foi capaz de
desenvolver uma estratégia comum de atuação com os 16 governadores, o que
incluiu também um plano conjunto de comunicação com a população. Além das
proibições propriamente ditas, há uma série de recomendações, como a de evitar
viagens particulares que não sejam essenciais. Estadias em hotéis estarão restritas
a viagens de negócios que forem indispensáveis.
Ainda que o lockdown parcial tenha recebido
apoio expressivo da população alemã, houve diversas críticas contra as novas
medidas. Angela Merkel foi particularmente criticada pelo partido Alternativa
para a Alemanha (AfD). “Em nome da saúde dos cidadãos, (o governo) optou
pelas maiores restrições à liberdade da história desta República”, disse
Alexander Gauland, presidente honorário do partido.
Em seu discurso no Parlamento, a chanceler alemã reconheceu
o caráter exigente das medidas anunciadas diante da nova onda de contaminações.
No entanto, afirmou que as restrições impostas são “adequadas, necessárias e
proporcionais”. Por sua vez, Angela Merkel chamou de perigosos e irresponsáveis
os líderes populistas que minimizam os riscos do novo coronavírus, como se
fosse algo inofensivo.
“Mentiras e desinformação, teorias da conspiração e ódio
prejudicam não apenas o debate democrático, mas também a luta contra o vírus”,
disse Angela Merkel, lembrando que as atuais condições climáticas colocam o
país em uma situação mais vulnerável. “Estamos em uma situação dramática no
início da época de frio. Isso afetará a todos nós, sem exceção”, afirmou.
Aos que utilizam a liberdade como argumento para se opor às
medidas restritivas, Angela Merkel lembrou uma realidade fundamental de toda a
convivência social. “Liberdade não é ser capaz de fazer o que você quiser”,
disse. “Liberdade é assumir responsabilidades.” Além de defender o isolamento
social como a medida mais eficiente para conter a disseminação do vírus, Angela
Merkel mencionou a importância, especialmente neste momento, da transparência e
da solidariedade.
Horas após o pronunciamento de Angela Merkel no Parlamento
alemão, o presidente Jair Bolsonaro mostrou-se surpreso com as novas restrições
adotadas por países europeus. Além da Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e
Itália também anunciaram medidas restritivas de circulação. “Olha, eu não
consigo entender uma medida como essa (quarentena) porque tá aí o vírus
(sic). Vai ter que enfrentá-lo. Tá de máscara, tudo bem, mas daqui a
pouco nada disso vai tá livre dele (do vírus)”, disse Jair Bolsonaro a
um grupo de apoiadores no Palácio do Planalto. “O objetivo do isolamento
social, que tá errado, eu falei que tava errado desde aquele momento, serviu só
para bagunçar a economia, e era para fazer com que não houvesse muita
contaminação ao mesmo tempo, para não saturar hospital.”
Desde o início do ano, o coronavírus vem causando muitas
mortes e incontáveis danos. É o mesmo vírus no mundo inteiro, mas a resposta de
cada governo é muito diferente. Vale escutar, uma vez mais, as palavras da
chanceler. Liberdade é assumir responsabilidades.
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