Givânia Silva é professora e pesquisadora quilombola, membro da ABPN, cofundadora e integrante dos coletivos de mulheres e educação da Conaq e professora substituta da FUP/UnB
Formado a partir de invasão e extermínio dos povos originários e de captura e tráfico de africanos, um dos atos mais violentos da humanidade, o Brasil mantém os os privilégios sociais, econômicos, políticos e culturais gerados para os brancos e as elites nestes 500 anos.
É como se o fato de não ter exterminado os povos originários —305 atualmente— e as 274 línguas faladas e não ter impedido que negros/as sejam 54% em 2020 causasse pânico às elites dominantes e um medo generalizado de que, em algum momento, possa haver uma mudança no jogo do poder. O Brasil investe cada vez mais no projeto de extermínio, mantando crianças, jovens, mulheres negras e indígenas nas cidades e no campo. O Estado mata biológica, psicológica e culturalmente aqueles que, por sua pertença étnico-racial, já estão na condição de culpados e devedores. A conta, impagável, é cobrada de uma única forma: com as vidas.
No contexto da pandemia, os mesmos grupos são deixados para morrer pelo Estado, pois não acessam políticas básicas de saúde, educação e saneamento e não recebem a mesma oportunidade de trabalho que os brancos. Sem isso, e marcados pelo projeto genocida, os mais de 5.000 quilombos, em mais de 1.700 municípios, por exemplo, sofrem danos ainda maiores pelas desigualdades, que se aprofundam sem nenhuma ação de proteção ou prevenção.
A Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) criou um sistema próprio para registrar os estragos da pandemia nos quilombos. Tal ação não seria dever do Estado, por meio de uma política pública? A pandemia mata mais negros/as no Brasil, pois são esses que se encontram em terrenos mais férteis, aonde o Estado, quando chega, vem para matar ou desterritorializar. E, assim, seguem em curso os projetos genocidas liderados pelo mesmo Brasil que, quando não mata os negros e negras, deixa que morram.
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