Um dos mais surrados chavões da política assevera que, à mulher de César, não basta ser honesta; é preciso também que pareça honesta. A variante cínica da máxima diz que o político não tem de ser honesto, mas apenas parecer honesto.
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) fez pouco caso de tais considerações ao adquirir uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília, às vésperas de o Superior Tribunal de Justiça ter tomado uma decisão que o beneficiou na investigação acerca de desvio de dinheiro de seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
O prejuízo político resultante da compra é autoevidente e não fica limitado à pessoa do senador. Respinga ainda em seu pai, o presidente Jair Bolsonaro, e em toda a ala parlamentar do clã, também alvo de suspeitas de apropriação de verba pública por meio da contratação de funcionários fantasmas.
Agrava bastante o dano o fato de os indícios que pesam contra o parlamentar envolverem crimes que ficam nas vizinhanças da corrupção. Ora, o combate a esse tipo de desmando foi uma das bandeiras que o presidente utilizou para eleger-se —e é tema sensível para os bolsonaristas mais fiéis.
Os impactos em potencial do caso não se restringem ao campo da política —avançam na esfera penal. A compra por si só já é um ato suspeito, que pode em tese dar ensejo a nova investigação sobre a origem do patrimônio do senador.
Numa análise perfunctória, Flávio e sua mulher não teriam renda suficiente para adquirir a mansão nas condições em que a adquiriram. O fato de o banco que concedeu o empréstimo ser uma instituição do governo do Distrito Federal —comandado por Ibaneis Rocha (MDB), aliado do presidente— contribui para levantar dúvidas.
Numa esfera que combina aspectos políticos e penais, a compra poderá criar outros problemas para o clã. Magistrados, em especial os de cortes superiores, tornaram-se alvo de pressão pelas redes sociais.
Aceder a pedidos da defesa de políticos investigados é custoso, notadamente quando se anulam, com base em filigranas jurídicas, casos que parecem sólidos. A aquisição da mansão só reforça a pressão sobre os juízes, que podem ficar menos benevolentes.
Por qualquer ângulo que se analise, pois, a compra nababesca provavelmente custará mais do que Flávio Bolsonaro calculara.
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