Após cenas consternadoras protagonizadas pelo presidente e por esbirros na Itália, Jair Bolsonaro logrou constranger o Brasil mais uma vez lançando na Escócia uma nova meta nacional para enfrentar a crise planetária do clima.
Não foi em Glasgow que se deu o anúncio, a bem da verdade. Bolsonaro compareceu apenas em efígie à cúpula COP26, falando por vídeo. A transmissão do dignitário evadido nem mesmo foi exibida no plenário da conferência das Nações Unidas, ficando restrita a acólitos reunidos no pavilhão brasileiro.
Na tela apareceu ainda o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, que tampouco chegara a Glasgow —mas este, ao menos, tem comparecimento confirmado.
O Planalto anunciou na oportunidade que elevou de 43% a 50% o compromisso de reduzir emissões de carbono até 2030, como contribuição para conter o aquecimento global em 1,5ºC.
Em aparência, a delegação brasileira estaria cumprindo o mandato imposto a todos os países de tornar mais ambiciosos seus objetivos de corte de emissões apresentados em 2015, para o Acordo de Paris. Mas foi jogo de cena.
Em realidade, o governo não avançou um milímetro, em termos absolutos, na meta fixada por Dilma Rousseff (PT) na capital francesa. Naquela ocasião o país se comprometera a evitar a emissão de 1,2 bilhão de toneladas equivalentes de dióxido de carbono (GtCO2e), mesma cifra ora adotada.
Por trás do aparente paradoxo oculta-se um artifício escritural. Como a redução é calculada sobre o ano-base 2005, qualquer alteração do volume emitido naquele ano implica mudança na quantidade de CO2 a ser evitada.
O segundo inventário nacional de gases do efeito estufa fixou em 2,8 GtCO2e a poluição climática brasileira de 2005; o terceiro, em 2,1, e o quarto, em 2,4. Essas revisões, resultantes de metodologias aperfeiçoadas, são feitas por vários países e tidas como aceitáveis pelos parâmetros das Nações Unidas.
Com a meta anterior de 43% de corte, o montante do compromisso assumido em 2015 era 1,2 GtCO2e. Aplicando agora 50% sobre 2,4, obtém-se o mesmo 1,2. Em valores nominais, portanto, voltamos ao ponto de partida.
A manobra tem as pegadas de três presidentes: Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Só o terceiro, entretanto, ocupa atualmente o poder —o mesmo que fugiu da COP26 e derrubou a credibilidade do Brasil com suas políticas antiambientais.
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