Mala que é mala não perde viagem. O eleito para o cargo de presidente da República escolheu a noite de Ano-Novo para fazer um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão. Em mais uma homenagem ao seu herói Brilhante Ustra, foram seis minutos de tortura. Aposto que nem a claque de esparros e lambe-botas Marcelo Queiroga, o ministro da Saúde, à frente— aguentou ouvir 30 segundos da ladainha. Não é que Bolsonaro não saiba ler no teleprompter; o que ele não sabe é ler.
Como há quem ainda se espante com as ações e as falas do ocupante do Planalto e até aqueles que à época da eleição nem imaginavam que ele seria o pior presidente da história do país, houve quem esperasse uma palavra breve e protocolar sobre fé, esperança e bom senso —não mais que dois minutos que terminassem num discreto sorriso—, uma mensagem de força aos brasileiros depois do terrível ano de 2021. Qual nada.
O que se viu foi sua cara feia de dor de barriga. E o festival de mentiras --marca registrada do bolsonarismo-- de cada santo dia. Apesar do asco, ele conseguiu provocar algumas gargalhadas ao lembrar que completa "três anos de governo sem corrupção". Mentiu sobre o combate à Covid, afirmando que em 2020 "não existia vacina disponível no mercado". Esqueceu a decisão de rejeitar, naquele ano, a proposta da Pfizer, que oferecia 70 milhões de doses com início da imunização em dezembro.
Ao contrário do que diz no cercadinho e nas lives para sua minoria de fanáticos, elogiou a campanha de vacinação. Por um breve momento se transformou em outra pessoa, ao constatar um desejo da população que ele fez de tudo para impedir que se tornasse realidade: "Fomos um exemplo para o mundo".
Sim, fomos, porque lhe demos uma banana.
Se o pronunciamento, acompanhado de norte a sul do país com panelaços de fúria, foi um trailer da campanha à reeleição, Bolsonaro está preso no seu cercadinho cada vez menor.
Alvaro Costa e Silva - Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
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