segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

TRIUNFO SOCIALISTA

Editorial Folha de S.Paulo

As eleições legislativas de Portugal, realizadas de forma antecipada no domingo (30), deram ao Partido Socialista uma vitória tão contundente como inesperada.

No poder desde 2015, mas sempre com uma bancada minoritária, a agremiação do primeiro-ministro António Costa obteve ao menos 117 dos 230 assentos do Parlamento, conquistando, assim, uma maioria absoluta só alcançada antes uma única vez, em 2005.

A vitória socialista constitui também um triunfo pessoal de Costa, que deve se tornar o premiê português mais longevo desde a Revolução dos Cravos, em 1974.

Embora as pesquisas viessem apontando um empate entre o PS e o direitista Partido Social-Democrata (PSD) —e, em alguns casos, até uma vitória do PSD—, o que se viu foi uma vantagem de quase 800 mil votos dos socialistas sobre os social-democratas, ainda a segunda força política do país, mas agora reduzidos de 79 para 71 cadeiras.

O resultado deu a Costa, em tese, a estabilidade parlamentar almejada havia anos. De 2015 a 2019, o premiê governou sob um arranjo inédito de siglas de esquerda, que ganhou o epíteto de geringonça, dado seu caráter insólito.

Após o PS vencer o pleito de 2019, o acordo foi desfeito, e Costa passou a negociar projetos pontualmente. A estratégia, porém, ruiu no ano passado, quando o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista votaram contra a proposta de Orçamento, o que levou à dissolução do Legislativo e à nova eleição.

Os antigos integrantes da geringonça terminaram severamente punidos pelos eleitores, em especial o Bloco de Esquerda, cuja bancada passou de 19 para 5 deputados, pior resultado desde 2002.

Nessa dança das cadeiras, quem assumiu o posto de terceira força foi o Chega, agremiação de extrema direita que se apresenta como antissistema, vocifera contra a população cigana e defende pautas controvertidas, como a castração química para pedófilos.

As 12 cadeiras obtidas pelo Chega põem fim a uma excepcionalidade de Portugal, um dos poucos países europeus que ainda não haviam conhecido avanços significativos da direita mais radical.

Dentre as tarefas do próximo governo, destaca-se a gestão dos vultosos recursos fornecidos pela União Europeia para a retomada pós-pandemia. Costa desfrutará de uma posição mais cômoda no Legislativo, mas terá contra si uma oposição mais ruidosa e hostil.

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