quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

MAIS NEGLIGÊNCIA

Editorial Folha de S.Paulo

Sim, existem tratamentos precoces para a Covid-19. Não são, porém, os que Jair Bolsonaro apregoa.

No início da pandemia, profissionais de saúde, desesperados por não ter como tratar seus pacientes, passaram em revista o arsenal de drogas da medicina, em busca de um remédio já licenciado que tivesse atividade contra o Sars-CoV-2.

Foi nesse contexto que fármacos como cloroquina, um antimalárico, ivermectina, um vermífugo, e nitazoxanida, outro vermífugo, ganharam notoriedade. Estudos muito preliminares sugeriam que eles poderiam funcionar. Mas essa hipótese acabou derrubada.

Por razões que cientistas cognitivos ainda precisam investigar mais, alguns grupos, em geral com ideologia mais à direita, recusaram-se a assimilar os resultados dos trabalhos e seguem até hoje afirmando que cloroquina e quejandos são eficazes contra a Covid-19.

Os laboratórios, porém, não ficaram parados. Assim como vacinas foram desenvolvidas em tempo recorde, a indústria farmacêutica criou ou encontrou drogas que têm atividade contra o vírus e salvam vidas quando ministradas nas fases iniciais da infecção. São os tratamentos precoces reais.

Fala-se aqui de fármacos como o Paxlovid, capaz de reduzir hospitalizações e mortes em 89%, o Remdesivir, com eficácia de 86%, e o Molnupiravir, entre 30% e 50%.

Agora, o escândalo. Como bem observou o médico infectologista e colunista da Folha Esper Kallás, ainda morrem no Brasil cerca de 800 pessoas por dia devido à Covid-19, mas ainda não colocamos esses medicamentos nos hospitais, onde salvariam inúmeras vidas.

A Anvisa nem sequer terminou o processo de licenciamento de todos, embora alguns estejam em uso até na Venezuela. As drogas que já foram aprovadas ainda não foram incorporadas ao SUS.

É uma lentidão que contrasta com a rapidez com que o governo de Jair Bolsonaro disponibilizou a cloroquina e outras drogas inúteis contra o coronavírus.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, diz que já está em contato com os fabricantes para encomendar os produtos, mas alerta que serão necessárias também mudanças na legislação.

Espera-se que o ministro não queira também fazer uma consulta pública, como a que convocou para atrasar a vacinação infantil. A eventual alteração na lei pode ser feita por medida provisória, mas é preciso algum senso de urgência.

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