terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

PARA LULA, GOVERNAR PODE SER MAIS DIFÍCIL DO QUE VENCER

Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo

O PT e o PSB conseguirão montar uma federação? O Kassab, cujo partido não é de esquerda nem de direita nem de centro, vai apoiar Lula, Bolsonaro ou vai mesmo insistir num candidato próprio? Eu não diria que essas questões sejam desimportantes, mas elas não parecem capazes de alterar muito o “grand jeu”, que se encaminha para uma disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro.

Na verdade, a menos que surjam os tais dos fatos novos, eu nem esperaria grandes mudanças nas pesquisas eleitorais até julho ou agosto, que é quando o eleitor começa a se posicionar mais seriamente em relação à sucessão presidencial e as campanhas efetivamente têm início.

Até lá, Lula deve continuar numa confortável liderança, e Bolsonaro não deve se afastar muito de seus 20-25%. Adoraria poder afirmar que é zero o risco de o presidente ser reeleito, mas não me parece prudente fazê-lo. Um dos problemas da democracia é que ela tem um forte viés situacionista. A taxa de reconduções numa base de quase 3.000 pleitos ao redor do globo é de 80%.

Bolsonaro, contudo, é sério candidato a ficar na minoria dos 20% de enjeitados. Não há sinal de espetáculo do crescimento que possa favorecê-lo nos próximos meses, e a inflação, que é eleitoralmente tóxica, até deve cair um pouco, mas permanecendo em terreno perceptivelmente positivo. Hoje, a aposta sensata é na vitória de Lula.

O que parece até mais preocupante do que o pleito para Lula é a governabilidade a partir de 2023. Nos últimos anos, os poderes da Presidência foram bem reduzidos. Os instrumentos que o Executivo tradicionalmente tinha para manter-se com a iniciativa política, como medidas provisórias quase ilimitadas e a possibilidade de liberar ou não emendas parlamentares, foram aos poucos transferidos para o próprio Legislativo. Hoje, os parlamentares se viram muito bem sem o presidente.

O que quer que Lula planeje fazer sairá caro.

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