Sexta de Carnaval. Em condições normais, era para a Viradouro, brava escola de samba de Niterói, estar afinando os couros para entrar na avenida na madrugada da próxima terça com seu enredo sobre o Carnaval de 1919 —o maior da história até então, por ter se sucedido à gripe espanhola. Era uma ideia de 2020, quando se pensava que, com a Covid dominada, o Carnaval de 2021 equivaleria à explosão de 1919. Mas a pandemia vetou o Carnaval de 21 e a Viradouro transferiu seu enredo para 22. E, quando tudo indicava que, em 22, a vida voltaria ao normal e as escolas ao asfalto, a variante ômicron adiou tudo de novo, ainda que para abril. Se houver abril.
Neste momento, mesmo com as escolas nos barracões e os blocos proibidos, é quase inevitável que, nos próximos dias, haja Carnaval. Grupos clandestinos, convocados pelas redes sociais, sairão às 5 da manhã e tomarão ruas e bairros antes da chegada da polícia. A alegação será a de que as festas fechadas estão permitidas sob o pretexto de que, nelas, é mais fácil controlar os protocolos sanitários. Mas, dirão, e daí para protocolos se o Carnaval é o antiprotocolo?
Duas guerras mundiais, a bomba de Hiroshima, os pavores da Guerra Fria e a asfixia de duas ditaduras (1937-45 e 1964-85), nada jamais foi capaz de abalar o Carnaval. Mas 2022 parece diferente. Continuam a morrer cerca de mil pessoas por dia pela Covid. A tragédia de Petrópolis não para de nos entrar pelos olhos, com suas histórias tristíssimas de perdas e dores. E, como se não bastasse, o bufão internacional Vladimir Putin quer promover um Carnaval só para ele, indiferente à vontade do seu próprio povo, para não falar dos outros que ele chamou para a briga.
Em outros tempos, a crise provocada por Putin seria tema de fantasias e marchinhas geniais. Mas não há mais clima para isso.
O Carnaval, assim como as guerras, ficou sério demais para ser deixado na mão dos foliões.
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