Os institutos de pesquisa erraram, sim, ao não detectar o movimento de voto útil da direita que, na última hora, fez Jair Bolsonaro crescer bem além do que previam – e que se espraiou nos estados beneficiando candidatos do bolsonarismo. Embora os principais institutos de credibilidade do país tenham acertado, na margem de erro, os números de Lula, está claro que precisam reciclar amostragens e melhorar ferramentas de abordagem do eleitor. A essa altura, porém, satanizar as pesquisas é fazer o jogo de Bolsonaro.
A investigação que o ministro da Justiça mandou a Polícia Federal abrir contra os institutos é um gesto autoritário típico de ditaduras, sinalização das trevas em que mergulhará a democracia brasileira em caso de reeleição. Como diz o velho lema, mata-se o mensageiro se a mensagem não é boa. Como os institutos apontam a vitória do adversário, vamos acabar com eles.
A essa altura, na arrancada do segundo turno, essa investigação – e as ameaças do bolsonarismo legislativo de abrir uma CPI das pesquisas – visa a amedrontar e intimidar essas instituições – quem sabe na crença de que, assim, suas pesquisas passarão a ser favoráveis ao bolsonarismo.
Mas, se a investigação da PF andar, é muito provável que encontre sinais de fraude não nas pesquisas coincidentes da maioria, mas sim naqueles institutos que, a bordo de contratos e pagamentos milionários do governo e seus aliados, sustentaram durante a campanha de primeiro turno um duvidoso empate entre o Lula e o presidente, e até a liderança deste último. São os chamados mandrakes, que todo mundo sabe quem são.
Está prevista a divulgação de uma série de pesquisas a partir de hoje, e é até possível que estas sejam recebidas com reticência dos dois lados. Normalmente, os levantamentos de início de segundo turno tendem a repetir ou ficar bem próximos dos resultados da eleição. E podem não ter tanto peso nas estratégias quanto tiveram antes.
Mas atirar pedras nas pesquisas hoje é, claramente, ajudar Bolsonaro em sua cruzada obscurantista e abrir espaço às fake news que seu suposto Datapovo tenta propagar. Os institutos que tratem de se aprimorar para manter a credibilidade, fonte de sua sobrevivência. Mas isso é um problema deles e de seus financiadores.
O que não se pode permitir é que sejam fulminados pelo poder autoritário de um presidente insatisfeito com os resultado que colocam seu adversário na frente – esses, bastante acertados. Não resta dúvida em relação à função das pesquisas no campo democrático: pode ser ruim com elas, mas muito pior sem eles.
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