Uma das maiores conquistas de Bolsonaro é ter ainda quem acredite ou finja acreditar que poderá haver moderação caso ele seja reeleito. Desde 2018 não existe essa possibilidade. Não há compostura possível para quem tem por objetivo tornar-se um ditador de republiqueta à maneira de Maduro, na Venezuela, ou Ortega, na Nicarágua.
Logo após o primeiro turno, ele chamou Tebet de "estepe" e Soraya de "trambique". Deu para ouvir as gargalhadas nos grupos de zap. Não satisfeito, associou o Nordeste ao analfabetismo, pegando carona na corrente de ódio e ofensa contra nordestinos disparada nas redes por seus apoiadores: "imbecis", "jumentos". O repertório presidencial é farto; quando se cansa da xenofobia, parte para o racismo, a misoginia ou a aporofobia, e assim vai monopolizando as atenções.
Bolsonaro espalha no Brasil a altamente contagiosa doença do autoritarismo. Depois de atacar as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral e aventar uma checagem de votos realizada pelas Forças Armadas (aliás, cadê o resultado?), a nova onda são as pesquisas. O capitão mandou a campo sua tropa de choque —ministros e deputados líderes do governo e do centrão— para pedir uma investigação e, desde já, censura e punição aos institutos. Só pode haver uma única opinião: aquela a seu favor.
Ao longo de quatro anos, Bolsonaro conseguiu aparelhar todas as instituições e uma parte do STF, cuja independência está prevista na Constituição. É do jogo democrático que as decisões da Corte possam contrariar o Executivo.
Antes mesmo de ser eleito, o aspirante a autocrata já preparava a captura do Supremo. Agora ele diz que recebeu uma proposta —de quem? De Hugo Chávez, vinda do além-túmulo?— para aumentar o número de cadeiras no STF, criando uma maioria artificial. Este é um dos poucos casos que livra Bolsonaro da acusação de estelionato eleitoral. O golpe é velho e anuncia-se de véspera.
Alvaro Costa e Silva
Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
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