Depois de mais de 30 anos a poliomielite volta a assombrar as crianças brasileiras. Na última quinta-feira (6), a Secretaria de Saúde do Pará informou que investiga um caso suspeito no município de Santo Antônio do Tauá. A vítima é uma criança de apenas 3 anos, que testou positivo para o poliovírus, pela metodologia de isolamento viral em fezes.
Se confirmado, será o primeiro caso registrado no Brasil desde 1989. Nas Américas, a doença foi erradicada na década seguinte. Em 1994, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) a certificação de área livre de circulação do poliovírus selvagem.
Infelizmente, a baixa cobertura vacinal pode fazer com que o vírus volte a circular pelo Brasil. E as crianças serão as maiores vítimas. Talvez por não existir mais casos no país desde o final da década de 80 muitos pais não tenham se atentado para a gravidade dessa doença e nem das sequelas deixadas pela paralisia infantil.
É verdade que essa moda antivax não é um fenômeno recente, começou há alguns anos nos Estados Unidos e, graças às redes sociais e as famigeradas fake news, se espalhou pelo mundo. Por causa de informações incorretas e mentirosas, muitos pais e mães têm negligenciado a saúde dos seus filhos. Infelizmente, como sempre macaqueamos tudo que os norte-americanos fazem, principalmente no que há de pior, estamos seguindo mais essa onda.
Com a pandemia da covid-19 e a guerra provocada pelo presidente Jair Bolsonaro contra as vacinas, os índices de vacinação no Brasil pioraram muito. Mas o pior é que esse é um tema que tem sido esquecido nas eleições deste ano. A única referência a questão da vacinação foi feita pela jornalista Vera Magalhães em pergunta ao então candidato Ciro Gomes durante o debate da Band. O presidente Bolsonaro, instado a comentar, ao invés de aproveitar para defender a vacinação, resolveu atacar a jornalista. Provavelmente fez isso por não ter o que dizer em seu favor.
O presidente sabe que tá errado e que sua postura, copiada por muitos dos seus seguidores, pode trazer prejuízos a muitas famílias, sobretudo às crianças, maiores vítimas dessa onda antivax. Mas não faz nenhuma mea-culpa para minimizar os estragos, que já se verificam em outras doenças.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) conferiu ao Brasil o certificado de país livre do sarampo em 2016. Três anos depois, em 2019, perdeu o status depois que o vírus voltou a circular. Em 2020 o país chegou a registrar um surto da doença. Em São Paulo, nos últimos meses, foi registrado um surto de meningite, que já matou 10 pessoas somente este ano. Um jovem de 22 anos foi a vítima mais recente.
A questão da vacinação já era um ponto pacificado no país. Anualmente, as crianças eram vacinadas e o Brasil era exemplo para o mundo. Não conheço ninguém da minha geração vítima da paralisia infantil. Graças as campanhas de vacinação, conseguimos vencer esse mal. Hoje, com a onda antivax provocada por desinformação, as coisas estão mudando e doenças antes exterminadas por aqui estão voltando. Este ano, por exemplo, apenas 60% das crianças foram vacinadas contra a pólio durante a campanha do Ministério da Saúde. O ideal é atingir 95% do público alvo.
A saúde pública é um tema que precisa entrar na pauta de debate para a presidência da República com os candidatos apresentando propostas objetivas e realistas. A questão do combate à desinformação em relação a questões de saúde pública faz parte disso. É preciso que os candidatos esclareçam como pretendem combater as fake news para fortalecer as campanhas de vacinação.
Infelizmente não é isso que temos visto. Ao contrário, ambos têm se valido das tais fake news para atacar um ao outo. E temas como satanismo, maçonaria e o outras baboseiras do tipo viraram o centro das discussões.
Talvez por toda essa inversão de prioridades é que o Brasil regrediu décadas nos últimos anos. Se continuarmos nesse ritmo, em breve voltaremos à idade média.
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