segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

COM ÊNFASES PRECISAS, DISCURSO CONTEMPORÂNEO SOBRE MEIO AMBIENTE

Daniela Chiaretti, Valor Econômico

Presidente falou em desmatamento zero, separou bioeconomia de empreendimentos da sociobiodiversidade e deu a real medida do desafio climático

O texto lido no plenário do Congresso foi o mais contemporâneo dos discursos de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O petista falou em desmatamento zero sem qualificar se é legal ou ilegal, separou bioeconomia dos empreendimentos da sociobiodiversidade, deu a real medida do desafio climático e a régua da diplomacia brasileira - na base de “um diálogo ativo e altivo” com os EUA, a União Europeia e a China.

“Nenhum outro país tem as condições do Brasil para se tornar uma grande potência ambiental, a partir da criatividade da bioeconomia e dos empreendimentos da sociobiodiversidade”, disse Lula no Congresso Nacional.

A separação é importante. Bioeconomia é um termo amplo que pode incluir produtores de álcool e florestas de eucalipto. A sociobiodiversidade fala aos produtores de castanhas e coletores de óleo de copaíba.

É o agronegócio e a indústria de um lado, o agricultor familiar e as comunidades quilombolas de outro. Lula incluiu todo mundo.

“Vamos iniciar a transição energética e ecológica para uma agropecuária e uma mineração sustentáveis, uma agricultura familiar mais forte, uma indústria mais verde”, seguiu, na mesma toada.

“Nossa meta é alcançar desmatamento zero na Amazônia e emissão zero de gases do efeito estufa na matriz elétrica, além de estimular o reaproveitamento de pastagens degradadas. O Brasil não precisa desmatar para manter e ampliar sua estratégica fronteira agrícola”. Foi um recado forte a ruralistas atrasados.

A Amazônia subiu a rampa com Lula, de braços dados com o cacique caiapó Raoni, talvez a liderança indígena mais famosa do mundo. Depois, no discurso no Parlatório, o presidente falou ao povo sobre a importância de preservar a floresta e mudança climática, de diversidade e desigualdade.

“Os povos indígenas precisam ter suas terras demarcadas e livres das ameaças das atividades econômicas ilegais e predatórias”, disse.

“Eles não são obstáculos ao desenvolvimento - são guardiões de nossos rios e florestas, e parte fundamental da nossa grandeza enquanto nação”, reforçou.

A proteção ambiental foi relacionada à economia, em uma perspectiva de quem entende que o presente e o futuro são da economia de baixo carbono.

“O mundo espera que o Brasil volte a ser um líder no enfrentamento à crise climática e um exemplo de país social e ambientalmente responsável, capaz de promover o crescimento econômico com distribuição de renda, combater a fome e a pobreza, dentro do processo democrático”, disse.

Lula anunciou que o Brasil voltará ao protagonismo internacional, e relacionou o esforço ambiental com a vinda de investimentos.

Falou na “retomada da integração sul-americana”, a partir do Mercosul e revitalização da Unasul.

“O Brasil tem de ser dono de si mesmo, dono de seu destino. Tem de voltar a ser um país soberano. Somos responsáveis pela maior parte da Amazônia e por vastos biomas, grandes aquíferos, jazidas de minérios, petróleo e fontes de energia limpa”, seguiu

Há 20 anos, ao assumir pela primeira vez, Lula falou em mudança. Citou o meio ambiente apenas uma vez, de modo quase protocolar. O mesmo para os indígenas. A mudança ocorreu, fortemente, no mundo, no Brasil e nele.

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