quarta-feira, 12 de abril de 2023

IA - MAIS UMA EXPONENCIAL EM NOSSAS VIDAS

Evandro Milet, OS DIVERGENTES

Sessa, um sábio, apresenta ao rei da Índia um novo jogo, a ser jogado num tabuleiro dividido em 64 casas quadradas de cores alternadas. É o jogo de xadrez! O rei se encanta e oferece uma recompensa. Ouro? Joias? Nada disso, responde o inventor. Ele deseja apenas trigo: um grão a ser colocado na primeira casa do tabuleiro, dois na segunda, quatro na terceira, oito na quarta… dobrando o número de grãos a cada casa, até a sexagésima-quarta. O rei olha para Sessa como se o sábio fosse um idiota e manda trazer uma saca de trigo. Chegando ao vigésimo quadrado, a saca estava vazia. A casa seguinte exigiu uma saca inteira só para si. Se houvesse trigo suficiente no mundo, ao final da operação o tabuleiro conteria 18.466.744.073.709.551.615 grãos de trigo, ou 18,5 sextilhões.

De que altura ficaria uma folha de papel dobrada 50 vezes? Você não vai acreditar, mas teria uma altura aproximada de 100 milhões de quilômetros (a distância da Terra ao Sol é de 150 milhões de quilômetros)! Vá no Google e veja quanto é 2 elevado a 50 multiplicado pela espessura de uma folha.

Em 1965, Gordon Moore, um dos fundadores da Intel, observou que, graças a melhorias na tecnologia, o número de transistores em microchips praticamente dobrariam a cada dois anos. Sua previsão ficou conhecida como Lei de Moore.

Os chips tornaram-se mais eficientes e baratos a uma taxa exponencial, ajudando a impulsionar grande parte do progresso tecnológico mundial por meio século e permitindo o advento não apenas de computadores pessoais, mas da Internet e de gigantes do Vale do Silício como Apple, Facebook e Google.

Todos os dias somos confrontados com a nossa deficiência de lidar com a matemática. Uma função exponencial, então, é estranha para o nosso cérebro.

Essa deficiência provocou os erros de cálculo de muita gente que menosprezou o crescimento do número de mortes por covid no início da pandemia.

Estamos agora enfrentando outra curva exponencial: a proliferação dos instrumentos de inteligência artificial generativa. Todos os dias novidades são apresentadas após o lançamento do ChatGPT. Logo aparecem algumas críticas de que algumas respostas não são precisas, que há erros, que não consegue fazer determinadas coisas que só humanos conseguiriam. De novo vamos recorrer à função exponencial. As coisas acontecem tão rapidamente que eventuais erros e inconsistências não serão resolvidas em um ano, mas na próxima semana.

É um erro pensar que a Open AI inventou alguma coisa revolucionária sozinha. Todos os grandes estão testando seus modelos de LLM (Large Language Models) há tempos, tanto que imediatamente começam a soltar suas versões. E as novidades incluem desenhos, fotos, filmes, imagens 3D, planilhas e apresentações geradas a partir de um prompt, isto é, um comando em linguagem natural. O Google fica ameaçado, a Apple Store está ameaçada, profissões desaparecem, todas as outras se modificam, surgem as LLM especializadas em finanças, em medicina, excitando as mentes para a possibilidade de resolver grandes problemas em pouquíssimo tempo. O ChatGPT poderá ser a nova plataforma em cima da qual tudo mais será construído.

A coisa é tão rápida que os próprios idealizadores dos algoritmos já não sabem mais o que os sistemas, alimentados com bilhões de informações, irão responder, gerando medo em muita gente de que os resultados podem ser incontroláveis na política, nas desinformações, nas manipulações, nos crimes, no relacionamento entre pessoas.

O futurista Kurt Kurzweil previu que os computadores atingiriam inteligência de nível humano em 2029, quando se passariam por humanos no teste de Turing. Está parecendo que será antes disso. Yuval Harari falou que teremos uma nova classe de inúteis. Tem gente que acha que seremos quase todos. Sobrarão os engenheiros de prompts, até serem substituídos também. Poderemos todos reduzir as horas de trabalho? Renda básica universal para muitos? Pode ser um caminho.

Há fantásticas perspectivas positivas e muitas que nos causam apreensão. Nem chegamos ainda ao vigésimo quadrado do tabuleiro. Tem gente tentando, mas não é fácil segurar uma exponencial.

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