quarta-feira, 31 de maio de 2023

ESPANHA POLARIZADA

Editorial Folha de S. Paulo

Premiê arrisca antecipar eleição geral para reverter vitória regional da direita

A polarização política é fenômeno que se espraia pelo Ocidente. Na Europa, a ultradireita chegou ao poder na Itália e na Suécia. Agora, a Espanha está em situação que pode gerar desfecho similar —o que é inesperado, dado que o país é um dos bastiões do socialismo continental, ao lado de Portugal.

O conservador Partido Popular (PP) venceu as eleições regionais —municipais, algumas estaduais e em parte para o Parlamento— realizadas no domingo (28). Na prática, a direita tomou o controle de quase todas as regiões do país.

Já o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de centro-esquerda, ficou em segundo e perdeu o poder em grandes cidades notáveis pelo suporte à esquerda, como Sevilha e Valência.

A ascensão do PP se deu a partir de coalizões com o Vox, partido neófito de ultradireita. Em comparação com 2019, a queda do PSOE foi ínfima, de 29% para 28% dos votos. Mas o PP passou de 23% para 31%, enquanto o Vox conseguiu duplicar sua votação geral, de 3,5% para 7%.

O resultado foi tão surpreendente que Pedro Sánchez, premiê espanhol do PSOE, antecipou as eleições gerais que seriam realizadas em novembro para 23 de julho.

Sánchez quer evitar desgaste de imagem e pressionar o eleitorado de esquerda a ir às urnas (foi fraco o comparecimento no pleito regional) para impedir uma escalada da direita radical no âmbito federal.

O movimento é arriscado, dado que os problemas que levaram ao fortalecimento da oposição não têm solução fácil nem rápida.

No poder desde 2019, após eleições que também foram antecipadas, Sánchez realizou acordos controversos com grupos separatistas catalães e nacionalistas bascos —até com candidatos condenados por terrorismo. A questão territorial é tão delicada no país que une eleitores de esquerda e direita contra o divisionismo.

Ademais, o PSOE firmou aliança com o Unidas Podemos, coligação de ultraesquerda que promoveu pautas de costumes polêmicas, em temas como aborto e direitos de transgêneros. Parte dos votos no Vox foi resposta a isso.

A situação espanhola reflete a polarização política, observada também, guardadas as proporções, no cenário brasileiro: ações rumo a determinado objetivo ideológico geram reações do campo oposto.

Vota-se menos pelo desejado e mais contra o que se considera inaceitável, o que pode favorecer solavancos na alternância de poder.

Bookmark and Share

Nenhum comentário:

Postar um comentário