Para Mourão, tramar um golpe é mero blá-blá-blá
General da reserva, ex-vice-presidente e atual senador, Hamilton Mourão anda deitando cátedra sobre direito penal. À plebe ignara ele ensinou que não há gravidade quando o presidente da República, que se candidatou à reeleição e perdeu, convoca uma reunião com os chefes das Forças Armadas e, apresentando uma minuta adrede preparada, propõe um golpe de Estado, com novas eleições e prisão de adversários.
"É um mero blá-blá-blá", ilustrou o professor Mourão. Deu um exemplo: "Vão dizer que uma tentativa de homicídio tem que ser punida, mas uma investida de golpe é diferente de homicídio. No caso de quase assassinato, eu te dou um tiro e erro. Uma tentativa de golpe seria o quê?". A tese seduziu grupos bolsonaristas, que passaram a divulgá-la nas redes, deixando de chamar o general de melancia.
Com base no relato do tenente-coronel Mauro Cid à PF, a BBC Brasil ouviu especialistas em direito. Eles —que certamente não frequentaram a mesma universidade na qual Mourão estudou— apontam três crimes cometidos pelos participantes da reunião: tentativa de golpe de Estado, abolição do Estado democrático de Direito e prevaricação. As penas variam de quatro a 12 anos de prisão.
No Rio Grande do Sul, reclamam de que Mourão não dá a mínima para o estado. Nem com as recentes tragédias climáticas ele mandou um oi para seus eleitores. Com mais interações na mídia do que cantora traída pelo namorado, o senador se empenha no golpe de limitar os mandatos de ministros do STF, além do contraponto à descriminalização do porte de maconha para consumo próprio e à validade constitucional do marco temporal para demarcação de terras indígenas. Quanto ao aborto, acha que dever ser escolha da mulher (nessa hora, volta a ser xingado de melancia).
Com tanto trabalho, Mourão ainda encontrou um tempinho para abraçar o general Heleno na CPI do 8 de Janeiro. Os dois sorriram de satisfação.
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