Situação se soma à perda de fôlego da popularidade presidencial e expõe os riscos do embate sobre as contas do governo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desperdiçou a oportunidade do seu programa semanal “Conversa com o presidente” para convencer o distinto público da importância do debate sobre a meta fiscal. Preferiu sair pela tangente e requentar a tentativa de golpe de Estado bolsonarista. É possível que tenha mudado de assunto para não continuar a mexer no angu que azedou, mas a estratégia de deixar decantar não parece suficiente. O índice de confiança do consumidor do Ibre/FGV para o mês de outubro demonstra que a insegurança sobre os rumos da economia já afeta o humor dos brasileiros.
O pessimismo das famílias atinge todas as faixas de renda e é movido pela preocupação com a manutenção do emprego. Apenas os consumidores com renda até R$ 2,1 mil se mostram satisfeitos. A maior queda se deu entre esta faixa de renda e R$ 4,8 mil. A sondagem demonstra que a resiliência demonstrada pelo setor de serviços prestados às famílias até meados do ano pode ter se esgotado.
É possível que Lula tenha resolvido apelar ao velho estratagema de expor os contendores para arbitrar a disputa, esteja esta entre os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil), ou entre o governo e o Congresso, mas este ringue público em nada ajuda a melhorar a confiança da população no futuro. Se o brasileiro comum já se sente inseguro mesmo sem entender o que venha a ser uma meta fiscal, é previsível que o receio sobre o que virá aumente quando indicadores que medem a incerteza, como o prêmio de risco do país, começarem a afetar os preços.
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Desde sexta-feira, quando disse que o governo não terá saída senão mexer na meta, Lula vem ensaiando recuos. Na segunda prestigiou Haddad com os dois novos diretores do Banco Central. Nesta terça, recebeu líderes da base do governo e disse que não pretende aumentar gastos mas evitar cortes. Enquanto o presidente quer mais receita para concluir as obras do PAC, os parlamentares querem mais dinheiro para emendas e fundo eleitoral. A população só quer emprego e estabilidade. A pesquisa do Ibre/FGV demonstra que teme perder um e outro.
O principal problema de Lula, desde a posse, é a divergência entre os planos com os quais voltou ao Planalto e um Congresso que tomou gosto por governar nos quatro anos do mandato bolsonarista. Se Lula, com uma folga fiscal, buscava reforçar o poder de pauta do governo no Congresso, colheu o inverso. Expôs sua incapacidade de mediar suas brigas sucessórias: a dos ministros da Fazenda e da Casa Civil, que disputam a prerrogativa de sucedê-lo, e a dos parlamentares em torno da renovação das mesas diretoras.
As últimas pesquisas já vinham demonstrando uma perda paulatina de fôlego do governo. Lula foi eficiente em tirar de seu colo a crise da segurança do Rio que dominou o noticiário na semana passado. Cancelou a reunião que faria no Planalto entre Defesa, Justiça e comandantes militares e delegou as tratativas para o ministro Flávio Dino. Com a gestão fiscal, ele fez o inverso. E arrisca inflacionar ainda mais o preço de sua base de apoio no Congresso.
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