sexta-feira, 3 de novembro de 2023

JAMAIS ESQUECER BOLSONARO

Ruy Castro, Folha de S. Paulo

É obrigatório lembrar como ele tentou armar a maior teia antidemocrática da história da República

De há algum tempo, sempre que cito Bolsonaro nesta coluna, leitores argumentam que devíamos parar de falar nele "para não promovê-lo" e que "quanto mais cedo o esquecermos, melhor." Também me repugna manchar este espaço com tal nome, mas o raciocínio é outro. Continuo a falar de Bolsonaro porque o Brasil ainda não ajustou contas com ele. Aliás, mal começou.

Nesta terça (31), Bolsonaro respondeu a mais um processo por ter prostituído o 7/9 do Bicentenário para fins reeleitorais. Foi condenado de novo e teve confirmada sua inelegibilidade por oito anos. Pena que cada condenação não se acrescente às outras para chegar a um número de três algarismos. Sou capaz de conviver com isso, desde que uma manobra de algum de seus advogados de toga não decida pela supressão da pena.

Acho hoje que devemos ser gratos a Bolsonaro. Ao tentar destruí-la, ele nos ensinou o valor da democracia. Nesta, a corrupção existe e pode ser combatida. Numa ditadura, a corrupção é até em maior grau, mas não podemos sequer denunciá-la. Bolsonaro levou quatro anos martelando que em seu governo não se roubava, como se os bilhões que usou para comprar os votos da reeleição fossem filantropia. Se reeleito, isso se cristalizaria como verdade.

Engana-se quem diz que seu governo é "para esquecer". Ao contrário, temos de lembrá-lo dia a dia, para aprendermos como se tentou armar a maior teia antidemocrática da história da República. Em 1937, Getulio impôs a ditadura na marra; em 1964, os militares botaram os tanques na rua. Já Bolsonaro costurou a dele ponto por ponto, infiltrando seus agentes nas urdiduras do Estado para amarrar cada nó.

Quando as outras nove investigações a seu respeito se completarem (e a delação de Mauro Cid não para de revelar crimes), então Bolsonaro poderá ser esquecido —num longínquo e acolhedor presídio federal.

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