Brasil chega à COP propondo alianças e novos mecanismos de financiamento para a manutenção das florestas tropicais
O presidente Lula vai propor, na Conferência do Clima, uma aliança entre os 80 países florestais e a criação de um novo mecanismo de financiamento para a manutenção das florestas tropicais. A ministra Marina Silva antes de embarcar para Dubai confirmou que haverá essa proposta. Ela disse que o Brasil chega à COP28 “de cabeça erguida, comprometido com a ciência” e “tendo evitado a emissão de 250 milhões de toneladas de CO2 com a queda do desmatamento da Amazônia em 2023”. Como não quer esconder a má notícia, o governo divulgou, na terça-feira, antes da viagem, o aumento do desmatamento no Cerrado. Sobre a nova proposta, ela deixou os detalhes para o presidente.
— É um mecanismo inovador que trará um volume de recursos altamente relevante, que não significará caridade dos países desenvolvidos, mas tirará os países que são detentores de floresta desse lugar de ser cobrado. Nós podemos fazer das nossas florestas um grande investimento. Receber pelos serviços ecossistêmicos que elas prestam para o equilíbrio do planeta. Eu não posso dar detalhes da proposta, obviamente, porque ela vai ser apresentada pelo presidente. Diria que ela cria um constrangimento ético para quem fala de floresta, mas não aporta os recursos. Não será doação de governos, virá de uma forma totalmente inovadora e rentável para aqueles que fizerem esses aportes.
Os chamados países florestais são os que têm ainda remanescentes de florestas tropicais, o mais eficiente sistema de neutralizar gases de efeito estufa. O Brasil, a Indonésia e a República do Congo têm a maior parte dessas florestas.
Essa COP fará um balanço geral do que houve desde o Acordo de Paris, em 2015, em termos de emissão e compromissos, tentará destravar a liberação dos US$ 100 bilhões por ano para ações de mitigação e adaptação à mudança climática, e ainda fazer novos avanços na compensação por “perdas e danos”, conceito que antes os países ricos relutavam em aceitar. Marina acha que haverá avanços em Dubai até pela dramática realidade.
— Isso é tão forte que Estados Unidos e a China resolveram conversar, fato que mudou o ânimo da COP, porque realmente havia desânimo. As duas potências decidiram conversar diante da gravidade do problema e assumir o compromisso de que vão caminhar juntas nesse tema, independentemente das questões de natureza econômica, geopolítica, que nós sabemos que existem entre essas duas potências, as duas maiores emissoras de CO2 do mundo. Essa COP vai colocar para todos nós como lidar com o princípio da transição justa, da justiça climática, em relação aos países vulneráveis. Os países ricos demoraram muito no debate para aceitar o conceito de perdas e danos, mas agora vai sair um compromisso para lidarmos com o tema, com um grupo de trabalho, uma força-tarefa global, dentro da COP, que buscará os recursos para compensar os países que já são afetados pelas emissões históricas dos países desenvolvidos.
Esse acordo de perdas e danos é dinheiro novo, adicional, além dos US$ 100 bilhões por ano do Acordo de Paris. Outro tema que pode avançar é o do compromisso para triplicar a oferta de energias renováveis. Marina acha insuficiente.
—É fácil dizer que vai pôr o pé no acelerador das renováveis. Difícil é desacelerar o pé das fósseis, mas com certeza essa questão terá que ser tratada para chegarmos na COP30, considerando o balanço geral com base no diagnóstico real.
O Brasil tem uma nova atitude, disse Marina, porque quer liderar pelo exemplo e quebrar a inércia do resultado positivo, ou seja, conseguiu reduzir o desmatamento, mas buscará o desmatamento zero. O Brasil não quer repetir a atitude do passado, quando dizia que se outros destruíram o meio ambiente, por que não poderíamos fazer isso.
— Diziam: ‘Ah, mas eles destruíram suas florestas’. Nós não queremos esse direito. ‘Ah, mas eles não têm mais povos originários’. Nós não queremos esse direito. Ainda bem que temos floresta. Ainda bem que temos povos originários. Ainda bem que já temos respostas. Não precisamos mais desmatar, podemos ter uma matriz energética 100% limpa. E com essa energia limpa, produzir hidrogênio verde, para ajudar o mundo a fazer a sua transição.
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