Agressões mútuas não reconhecidas explicam conflito em Gaza
A expressão t-1, frequente em equações da física, ajuda a entender o conflito em Gaza. Se você cobrar um israelense pelos inclementes bombardeios contra civis palestinos, ele recuará um instante no tempo, o t-1, e dirá que eles são uma resposta ao ataque terrorista do Hamas no último dia 7. O palestino, por sua vez, quando questionado, voltará mais um pouco, fazendo referência a décadas de ocupação violenta de territórios palestinos por Israel.
É claro que o israelense não se dará por vencido e lembrará que foram os árabes que não aceitaram a partilha determinada pela ONU em 1947 e atacaram Israel no ano seguinte. Os palestinos retrucarão afirmando que a organização não tinha o direito de pegar as terras que eles "sempre ocuparam" e entregá-las aos judeus. E assim, de -1 em -1, retornamos aos tempos bíblicos, onde teriam começado as primeiras escaramuças entre judeus e árabes, os dois povos de Abraão.
Psicólogos e sociólogos que estudam conflitos, que podem se dar entre países, povos, grupos ou indivíduos, estão familiarizados com esse padrão de agressões mútuas que ganham escala. Um lado pode até admitir que em algum momento reagiu de modo inadequado a uma ofensa da outra parte, mas a tendência é que considere isso algo menor, que de modo algum justificaria a resposta exacerbada dada pelo inimigo.
É difícil, mas não impossível interromper esses ciclos. O primeiro passo é reconhecer que as queixas do outro lado têm bases reais. O segundo é encontrar um parâmetro a partir do qual negociar. Dado que nem os palestinos conseguirão empurrar os judeus para o mar nem os judeus podem seguir fingindo que os palestinos não têm direitos, um bom ponto de partida é a partilha da ONU de 1947, ou seja, a solução de dois Estados.
Os obstáculos são enormes e agora parecem intransponíveis. Mas daí não se segue que seja impossível para sempre. Já quase deu certo nos anos 1990.
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