domingo, 3 de dezembro de 2023

A DUBIEDADE DE LULA

Eliane Cantanhêde, O Estado de S. Paulo

COP 28 ou Opep, Arábia Saudita e exploração de petróleo na foz do Amazonas?

Então, é isso: o presidente Lula confirma a entrada do Brasil na organização dos maiores produtores de petróleo do mundo, a Opep, e justifica que a intenção é “convencer” esses países a se prepararem para o fim do combustível fóssil. De duas, uma: ou o presidente do Brasil está mais megalomaníaco do que nunca ou essa declaração – para a “sociedade civil” na COP 28 – foi a única saída encontrada, ou desculpa esfarrapada, para tentar explicar mais um debate fora de hora e de contexto.

Essa manifestação e o choro de Lula, abraçado a Marina Silva no fim da COP em Dubai, embrulham uma dubiedade na questão ambiental, que deixou de ser desdenhada como coisa “utópica”, de “esquerdista”, torna-se cada vez mais prioritária para governos, academia, mídia e, inclusive, o mundo financeiro e empresarial de todo o mundo.

A transição energética não se faz de um dia para o outro e o petróleo será necessário por um bom tempo, mas isso não justifica Lula ter dois discursos, um para ambientalistas e países desenvolvidos, outro para produtores e mundo árabe. Como política e diplomacia se fazem com palavras, gestos e percepções, o público interno e externo fica com uma pulga atrás da orelha.

Lula começou esse seu giro internacional na Arábia Saudita, maior exportador de petróleo do mundo, que vive dele e praticamente só dele, levando na bagagem o debate sobre exploração petrolífera na foz do Amazonas e o anúncio sobre a entrada do Brasil na Opep. Arábia Saudita, petróleo na foz do Amazonas e Opep estão na contramão da COP, onde Lula já chegou discursando justamente no sentido oposto, contra os combustíveis fósseis.

Para piorar, enquanto a COP acontecia, Maceió afundava no que o senador Renan Calheiros, de Alagoas, classifica como “Chernobyl brasileiro, o maior crime ambiental do mundo atual”. Que, vale dizer, resvala para uma questão sensível na história brasileira, não só para os governos do PT, mas principalmente para eles: a promiscuidade entre empresas e setor público, governos federal, estadual e municipal.

O Brasil não é líder político, econômico, muito menos bélico, mas é, sim, uma potência ambiental ouvida no mundo todo. Logo, uma boa imagem na COP 28 foi de Fernando Haddad, da Fazenda, e Marina, do Meio Ambiente, lado a lado, anunciando projetos e metas para a sustentabilidade e as “florestas de pé”, numa mensagem de que proteção ambiental não é incompatível com desenvolvimento econômico, muito pelo contrário – um depende do outro, e a sobrevivência do planeta e da humanidade, de ambos. Lula diz que o Brasil precisa dar o exemplo. Ele, principalmente.

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