Vive-se um clima de pré-eleitoral no país de Maduro, que tem se envolvido pessoalmente na campanha pelo “sim” para anexar pela força a região petrolífera de Essequibo
Para evitar que a Venezuela invada a Guiana pelo caminho mais fácil, a fronteira de Roraima com os dois países, o Ministério da Defesa aumentou a presença militar na região entre Bonfim, que dá acesso à Essequibo, e Pacaraima, porta de entrada dos venezuelanos no Brasil. A Venezuela vai às urnas neste domingo para votar em um referendo sobre a anexação pela força da região de Essequibo, que representa cerca de dois terços do atual território da antiga colônia inglesa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem um papel importante para evitar o conflito, mas precisa impedir a passagem de tropas estrangeiras pelo território brasileiro.
A Venezuela reforçou sua capacidade militar nas últimas décadas, com destaque para a aquisição de armamentos russos, como caças Sukhoi Su-30MK2V, helicópteros Mil Mi-17, assim como baterias de mísseis S-300, carros de combate T-72, entre outros. Além disso, o país ainda adquiriu alguns aviões de transporte chineses Shaanxi Y-8, que se adicionaram a frota de helicópteros Cougar e Super Puma, franceses, caças F-16 norte-americanos, e tucanos, brasileiros, adquiridos bem antes.
Do ponto de vista militar, a Venezuela tem vantagem estratégica na Amazônia. Os jatos Su-30Mk2 tem poder de fogo, manobrabilidade, autonomia e alto desempenho; mísseis antiaéreos russos e radares chineses lhe conferem o melhor sistema de defesa aeroespacial da América do Sul. A força naval de Puerto Cabello também foi renovada. Há dúvidas sobre a capacidade operacional desses armamentos, por falta de manutenção. Cuba, Rússia e China são aliados do regime bolivariano. Apesar disso, se for à guerra, o presidente da Venezuela, Nícolas Maduro, embarcará numa aventura solitária, sem chance de final feliz.
Mais ou menos como os militares argentinos, no governo do tenente-general Leopoldo Galtieri, ao ocuparem as Ilhas Malvinas, controladas pelo Reino Unido. Era uma derrota anunciada. Em vez de arbitrar uma negociação, os Estados Unidos deram apoio logístico às forças armadas do Reino Unido, que retomaram as ilhas e infringiram uma derrota à Argentina que resultou no fim do regime militar. Vale lembrar que a Guiana, como ex-colônia, faz parte da Comunidade Britânica.
Com 160 mil km² e uma população de 120 mil pessoas, Essequibo é alvo de disputa desde 1899, quando esse espaço foi oficialmente entregue pela Holanda à Grã-Bretanha, que controlava a Guiana. A Venezuela, no entanto, não reconhece essa decisão e considera a região “em disputa”. Entretanto, a Guiana entrou com uma liminar na Corte Internacional de Justiça, em Haia, para suspender o referendo deste domingo e teve ganho de causa, mas a Venezuela não aceita a jurisdição da CIJ nesse caso e evoca o Acordo de Genebra de 1966 como único instrumento válido para resolver a controvérsia.
Colonialismo
É um conflito cuja origem é o colonialismo na Amazônia, com a divisão da Guiana em três: a francesa, que existe até hoje como departamento da França; a holandesa, que se tornou o Suriname; e a inglesa, que também se tornou independente. A Guiana afirma que existe um laudo de 1899, feito em Paris, no qual foram estabelecidas as fronteiras atuais. Na época, a Guiana era um território do Reino Unido. Já a Venezuela alega que o território é seu, porque assim consta em um acordo firmado em 1966 com o próprio Reino Unido, antes de a Guiana se tornar independente, no qual o laudo arbitral foi anulado e se estabeleceram bases para uma solução negociada.
A crise se intensificou em setembro, quando a Guiana resolveu explorar intensamente o petróleo na região. Essequibo tem uma floresta densa, que não despertava grandes interesses econômicos, até 2015, quando foi descoberto petróleo na região. São reservas estimadas em de 11 bilhões de barris, a maior parte “offshore”, ou seja, no mar, perto de Essequibo. A Guiana é o país sul-americano que mais cresce nos últimos anos.
Neste domingo, a população do país dirá se quer que o território de Essequibo seja incorporado à Venezuela. Se disser não, será a maior derrota de Maduro, mas isso é muito difícil, porque as eleições na Venezuela não são livres. A consulta terá cinco perguntas, uma delas explicitamente sobre a anexação de Essequibo. Como sempre acontece em regimes autoritários, Maduro usa Essequibo como bandeira nacionalista para se manter no poder.
Depois de anos em crise, o país espera uma melhora econômica com a retirada das sanções econômicas dos Estados Unidos, sob condição de realizar eleições presidenciais limpas em 2024. O presidente guianês, Irfaan Ali, afirmou que as medidas tomadas pela Venezuela, como o referendo, são agressivas, infundadas e ilegais. O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, declarou, ao fim da reunião que o Brasil deseja uma solução diplomática e pacífica para a controvérsia.Em caso de conflito, não haverá eleição na Venezuela, o verdadeiro objetivo de Maduro com a crise.
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