Assembleia deve devolver mandato a deputada suspeita de proximidade com criminosos
A Assembleia Legislativa do Rio começa a decidir hoje o destino da deputada Lucinha. Ela foi afastada do cargo pela Justiça, sob suspeita de envolvimento com a maior milícia do estado. Agora a medida será submetida ao voto de seus colegas.
A Polícia Federal esbarrou em Lucinha ao investigar a quadrilha que domina a Zona Oeste da capital. Os agentes descobriram que os criminosos mantinham contato permanente com a parlamentar. Trocavam informações, pediam favores e, ao que tudo indica, eram atendidos.
O Ministério Público enumerou cinco episódios em que a deputada teria atuado como uma espécie de despachante dos milicianos — “ora para favorecer os interesses da malta, ora para protegê-los das iniciativas das autoridades policiais”.
De acordo com o inquérito, Lucinha intermediou a soltura de criminosos e ajudou a derrubar um comandante de batalhão que estaria atrapalhando os negócios do bando. Ela também é suspeita de estimular a polícia a deflagrar uma operação contra uma milícia rival.
Em mensagens interceptadas pela PF, criminosos se referem à deputada como “Madrinha”. Ela nega qualquer irregularidade e se diz pronta para voltar à Alerj.
Filiada ao PSD, Lucinha é uma personagem típica da baixa política fluminense. Com perfil assistencialista, apoia todos os governos para garantir acesso à máquina pública e atender sua clientela. Está no oitavo mandato seguido — quatro como vereadora, quatro como deputada estadual. Seu filho Junior da Lucinha é secretário de Envelhecimento Saudável na gestão do prefeito Eduardo Paes.
A proximidade entre políticos e paramilitares não é novidade no Rio. Em 2008, a CPI das Milícias pediu o indiciamento de um deputado e cinco vereadores. Desde então, as quadrilhas só ganharam força e influência.
Apesar das provas empilhadas pela PF, a Alerj tende a devolver o mandato a Lucinha. Colegas dizem que ela foi afastada por tempo indeterminado e ainda não é alvo de uma denúncia formal à Justiça. Nada disso foi impedimento para a cassação do ex-governador Wilson Witzel.
A Assembleia costuma ser mais tolerante com seus próprios integrantes. Em 2017, revogou a prisão de três deputados acusados de corrupção. Dois anos depois, deu posse a outros cinco que estavam presos em Bangu. O desfecho do caso Lucinha deve dizer mais sobre a Alerj do que sobre a deputada afastada.
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