quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

POLÍTICA DO CAFÉ COM LEITE

Vera Magalhães, O Globo

Presidente prioriza entregas e eleições nas capitais de Minas, São Paulo e Rio para facilitar caminho para a reeleição

Que Lula já está com os dois pés na canoa da eleição municipal, é perceptível. Mas quanto o presidente enxerga a disputa de outubro próximo como vital para sua própria reeleição é algo que sua agenda desta semana ajuda a dimensionar melhor.

O petista traçou um diagnóstico, que partilhou com aliados caciques de outras legendas, segundo o qual, para ter tranquilidade na busca pelo quarto mandato, precisa se fortalecer em São Paulo, Rio e Minas Gerais. Ele já vinha dedicando esforço pessoal à montagem do palanque de Guilherme Boulos na capital paulista e, com as viagens desta semana, trata de fortalecer os outros dois vértices do triângulo.

No Rio, primeira perna da caravana da semana, Lula se fez acompanhar de vários ministros e de políticos de diversos partidos, inclusive aqueles com passado ou presente mais próximo ao bolsonarismo. Estava lá o governador Cláudio Castro, numa repetição da tática da aparição de Lula ao lado de Tarcísio de Freitas na semana passada.

Na verdade, Castro é hoje uma ovelha mais próxima a desgarrar do rebanho bolsonarista que Tarcísio. Aliados do governador fluminense não descartam nem um desenho em que ele dispute uma cadeira ao Senado numa chapa que apoie Lula e tenha Eduardo Paes como candidato à sucessão do governo.

Para a reeleição de Paes, Lula pode convencer o PT a abrir mão de pleitear a vice. Assim, com uma chapa puro-sangue, o prefeito se sentiria mais à vontade para deixar o mandato e tentar, de novo, o Guanabara.

O presidente articula com o PSD a estratégia municipal tanto do Rio quanto de Belo Horizonte, num pacote fechado. O partido comandado por Gilberto Kassab governa as duas capitais e terá apoio do PT na disputa por mantê-las — no caso mineiro, resta apenas combinar se a melhor estratégia é uma aliança já no primeiro turno ou no segundo em torno de Fuad Noman.

A trupe que vai com o presidente a Belo Horizonte para uma série de entregas na quinta-feira também será “pesada”. Lula tem dito que precisa melhorar sua aprovação no segundo maior colégio eleitoral do país para chegar forte a 2026. Ele esteve na noite de segunda-feira com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que estará na comitiva mineira e é cotado para ser o candidato lulista ao governo do estado daqui a dois anos.

Nem por isso Lula deixou de convidar o governador Romeu Zema, aquele que — da trinca “conservadora” de governadores dos estados do Sudeste — é o que mais tem feito movimentos para a disputa presidencial e mais tem se esforçado para atingir o diapasão do discurso bolsonarista, com direito ao pacote completo, que vai da estigmatização da discussão de gênero à negação da vacina. Não se sabe se o representante do Partido Novo atenderá ao convite, como Tarcísio e Castro, ou apostará ainda mais na postura de distanciamento do governo federal.

Trata-se de uma aposta de risco. A lista de obras e programas federais que Lula pretende lançar em BH é pesada, e a estratégia de “chegar chegando” inclui até a proposital omissão prévia de alguns anúncios, para causar mais impacto.

Lula montou no detalhe as agendas desta semana. Mobilizou ministros e o vice, Geraldo Alckmin, para “cobrirem” sua ausência em cidades de outros Estados da turnê que alavancará o Minha Casa, Minha Vida. O empenho foi tamanho que o presidente dedicou pouco tempo e nenhuma preocupação ao recado de Arthur Lira na segunda-feira.

Sua ordem foi que ninguém vestisse a carapuça ou aumentasse a crise e, quando voltar do road show, ele pessoalmente pretende se reunir com o presidente da Câmara para tranquilizá-lo dizendo que o governo não tem interesse algum em criar marola na sua sucessão.

Toda essa costura mostra que 2026 já é uma folhinha na parede de Lula, aberta concomitantemente à deste ano de eleição municipal, e os movimentos pelo mapa do país serão feitos agora para colher lá na frente.

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