A exemplo do que ocorreu na pandemia, fabricação nacional pode aliviar escassez em momento crítico
Mesmo antes do período de maior incidência da dengue, entre março e maio, o Brasil já enfrenta explosão nos casos. De acordo com o Ministério da Saúde, nas primeiras quatro semanas do ano os infectados mais que triplicaram em relação ao mesmo período do ano passado, passando de 215 mil. Os estados de Minas Gerais, Goiás e Acre, além do Distrito Federal e da cidade do Rio de Janeiro, decretaram situação de emergência.
O Ministério da Saúde começa neste mês a aplicar a vacina Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, mas a capacidade de produção do laboratório é limitada. Para todo o ano, está prevista a entrega de 6,5 milhões de doses. Como cada vacinado precisa de duas, em torno de 3,2 milhões de pessoas poderão ser imunizadas.
Para contornar a escassez, o governo decidiu que a vacina será destinada prioritariamente a adolescentes de 10 a 14 anos, apenas em regiões onde há maior incidência da doença. Dos 5.570 municípios brasileiros, pouco mais de 500 receberão as doses. Com o intuito de aumentar a oferta para o SUS, a Takeda anunciou que não venderá mais a vacina a clínicas particulares ou municípios.
O Instituto Butantan, em parceria com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, desenvolve uma vacina contra a dengue que se mostra promissora, mas não está pronta. De acordo com estudo publicado na semana passada na revista científica New England Journal of Medicine, ela apresenta eficácia de 79,6% na prevenção da doença (semelhante à da Qdenga, de 80,2%). Como a vacina japonesa, protege contra os quatro tipos de dengue, com uma vantagem: é aplicada em dose única. Mas só estará disponível para aplicação no ano que vem.
Diante do quadro que se agrava a cada dia e da impossibilidade de promover uma vacinação maciça, é importante que o governo federal firme acordo com o fabricante para produzir também a Qdenga no Brasil, a exemplo do que foi feito durante a pandemia. Na época, o Butantan produziu a CoronaVac e a Fiocruz a AstraZeneca. Ambas foram fundamentais no controle da epidemia. A própria ministra da Saúde, Nísia Trindade, aventou essa possibilidade e prometeu trabalhar para colocá-la em prática.
O combate ao mosquito transmissor não pode ser esquecido e precisa ser reforçado. Segundo o Ministério da Saúde, 75% dos focos estão dentro de residências. Mas o Brasil necessita de soluções urgentes. O aumento nas internações já pressiona as redes de saúde, e os mortos confirmados já chegaram a 15 (149 estão sob investigação). A vacina é uma aliada importante na prevenção de casos graves e mortes. A quantidade oferecida pela Takeda não atende às necessidades. Os resultados da vacina do Butantan são auspiciosos, mas ela ainda não pode ser usada. Por isso uma alternativa é produzir a Qdenga no Brasil. A pandemia de Covid-19 mostrou que é um caminho viável.
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