Banalização do Holocausto não deveria estar no repertório de um chefe de Estado
Não há como saber ao certo se Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mediu previamente as consequências de suas declarações desvairadas sobre a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza ou se, como é frequente, sucumbiu ao improviso presunçoso. As duas hipóteses são péssimas.
"O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus", pontificou o cacique petista no domingo (18), em entrevista durante visita à Etiópia. "Na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio."
Para além da demonstração de plena ignorância sobre a história dos conflitos da humanidade, a banalização de temas como genocídio e o Holocausto, que prolifera na gritaria das redes sociais, não deveria fazer parte do repertório de um chefe de Estado.
Foi flagrante, aliás, o contraste entre a leviandade das assertivas sobre Israel e a cautela reverente com que Lula, na mesma viagem internacional, tratou da morte de Alexei Navalni, opositor que estava encarcerado pelo regime russo.
Ali não se viu vestígio de questionamento à degradação da democracia sob Vladimir Putin, seu colega de Brics, como se todo o caso se resumisse a uma investigação de legistas sobre o que se passou nos momentos finais do morto.
O governo de Israel —que, sim, tem muito a ser criticado, e não só pela mortandade promovida após o ataque terrorista do Hamas— não deixaria de responder ao destampatório. O mandatário brasileiro passou a ser considerado "persona non grata"; o embaixador do Brasil, alvo de uma reprimenda, foi chamado de volta ao país.
No plano doméstico, os arroubos retóricos de Lula têm o efeito de inflamar tanto seguidores quanto opositores mais extremados, fomentando uma polarização que lhe convém. Se esse é o benefício esperado, o preço a pagar é a credibilidade da política do Itamaraty.
O Brasil, afinal, cria uma turbulência diplomática e coloca em xeque sua tradicional equidistância sem uma estratégia que pareça clara —ou mesmo uma argumentação calcada nos fatos.
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