Suspeita de envolvimento com milícia afastada pela Justiça foi considerada apta por seus colegas deputados
A reintegração à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) da deputada Lúcia Helena de Amaral Pinto, ou Lucinha (PSD), afastada sob a acusação de prestar favores a milicianos, diz muito sobre o compadrio dos políticos. É certo que a Alerj instaurou processo no Conselho de Ética, que pode eventualmente levar à cassação dela. Mas ninguém aposta nesse desfecho.
A perda de controle de vastas áreas do território das cidades para milicianos e traficantes coloca políticos que têm nessas áreas suas bases eleitorais diante de uma questão: como lidar com quadrilhas que exercem um poder que caberia ao Estado? Ignorá-las não é uma alternativa. Infelizmente, é comum na política carioca e fluminense haver algum tipo de acordo com o crime organizado. Só isso coloca qualquer político no perigoso terreno da omissão e da conivência.
Lucinha, no oitavo mandato consecutivo — quatro como vereadora e quatro como deputada estadual — é uma populista típica da baixa política fluminense, sempre ligada ao governo no poder para obter os favores e benesses que movem sua máquina assistencialista de votos. Ao aproximar-se de milicianos, deu um passo temerário.
Uma investigação do Ministério Público (MP) do Rio e da Polícia Federal (PF) encontrou sinais convincentes de que ela ultrapassou os limites em seus contatos com o grupo do miliciano Luis Antônio da Silva Braga, conhecido como Zinho, que controla parte da Zona Oeste carioca. Em outubro, numa vingança contra a morte de um parente, Zinho mandou bloquear áreas da região. A confusão resultou na destruição e incêndio de mais de 35 ônibus e de um trem, sem reação policial. No final de dezembro, ele preferiu se entregar à polícia. Mas sua organização continua ativa. De acordo com as investigações, Lucinha era chamada pelo codinome “madrinha” pelos milicianos e tentava interferir em organismos da segurança pública fluminense para ajudar a quadrilha de Zinho.
Ela foi alvo de um mandado de busca e apreensão em 18 de dezembro. Entre as ações atribuídas a Lucinha pelos investigadores, estão a intermediação para a soltura de presos do grupo de Zinho e até a ajuda para derrubar um comandante de batalhão da PM que prejudicava os negócios da milícia. Segundo as acusações, ela chegou a estimular a polícia a fazer uma operação contra uma milícia rival. De acordo com o MP, a milícia de Zinho pagou a delegacias da Polícia Civil para deflagrá-la, com Lucinha atuando como intermediária entre milicianos e autoridades.
Mesmo integrantes da Mesa da Alerj afirmam que ela foi longe demais na relação com os milicianos. Mas isso não bastou para que a Assembleia mantivesse a decisão da Justiça que a afastara do mandato. No passado, a Alerj já revogou a prisão de três deputados acusados de corrupção. Depois, empossou cinco que estavam presos em Bangu. Nada parece demover os deputados fluminenses de seu corporativismo inquebrantável.
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