Trump começa disputa como favorito, mas Biden ainda dispõe de oito meses para convencer o eleitor
Realizadas ontem, as 15 disputas republicanas e 16 democratas que formam o maior conjunto de prévias no calendário eleitoral americano — coletivamente chamadas de Superterça — em nada mudaram as projeções. O presidente Joe Biden e o e ex-presidente Donald Trump seguem rumo à confirmação de suas candidaturas nas convenções e deverão disputar a eleição em novembro. Entre os democratas, não há sombra para Biden. Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul, não provou ser páreo para Trump, força hegemônica entre os republicanos. Salvo motivo de força maior, o pleito de 2024 será uma reprise de 2020.
Desta vez, Trump larga na frente. Na média das pesquisas nacionais, ele aparece 2 pontos à frente de Biden. Entre os seis estados considerados decisivos, apenas na Pensilvânia Biden leva pequena vantagem. Nos demais — Arizona, Georgia, Michigan, Nevada e Wisconsin —, Trump lidera. Para completar, ele celebrou nesta semana uma vitória fundamental na Suprema Corte: por unanimidade, os juízes derrubaram a decisão do Judiciário do Colorado que tirara seu nome das cédulas do estado, sob a acusação de ter participado da “insurreição” de 6 de janeiro de 2021. Com isso, acabou a esperança da ala do Partido Democrata que esperava vê-lo desqualificado pela Justiça.
A consagração na Superterça precisa ser vista no devido contexto. Os eleitores que participam das primárias são os politicamente mais ativos. Não representam o humor do eleitorado como um todo. Biden deverá ir ao Congresso amanhã proferir o discurso anual conhecido como Estado da União. Aos 81 anos, com o governo reprovado por metade da população, ele é considerado velho demais para ser presidente por 47%. Ainda que o PIB esteja em alta, a inflação sob controle e o desemprego entre os mais baixos já registrados, a maioria pensa que a economia vai mal. O influxo de imigrantes ilegais do México disparou. Os democratas tentaram aumentar o orçamento destinado à segurança das fronteiras, mas foram barrados pelos republicanos. Por fim, o apoio incondicional a Israel na guerra contra o grupo terrorista Hamas tem desagradado segmentos mais à esquerda do eleitorado democrata.
Apesar de tudo isso, a disputa está aberta, e Biden ainda tem forças. Ele dispõe de oito meses para convencer o eleitor dos acertos do seu governo e lembrar o caos reinante no mandato de Trump. Com o passar do tempo, a percepção sobre a situação da economia tende a se aproximar da realidade. A decisão da Suprema Corte que permitiu a restrição do direito ao aborto em vários estados mobilizará o eleitorado feminino contra Trump. Quanto a este, segue enrolado em vários processos judiciais. Mesmo que protele julgamentos para depois das eleições, as acusações poderão erodir a confiança de eleitores independentes quando forem marteladas com insistência pelos democratas.
A julgar pelo primeiro mandato de Trump, sua volta à Casa Branca seria catastrófica. Nos quatro anos em que esteve na Presidência, adotou uma política externa sem visão estratégica, investiu sobre instituições de Estado, espalhou mentiras como nenhum outro presidente e insistiu na fantasia da fraude na eleição de 2020. Mais experiente e sem figuras de relevo por perto para contê-lo, teria poder de destruição maior num segundo mandato. Caberá ao eleitor americano evitar o pior.
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