sexta-feira, 14 de junho de 2024

A RESSACA DOS LULISTAS

Bruno Boghossian, Folha de S. Paulo

Lulistas enxergam risco para a capacidade política do governo

Antigos conselheiros do presidente buscam remédios para a ressaca das últimas semanas

Ninguém poderia descrever a ressaca do governo com tanta franqueza. O líder de Lula na Câmara, José Guimarães, reclamou de uma falta de comando e cobrou mudanças. "O risco de acomodação do governo é muito grande", disse. Já o chefe da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o presidente enfrenta um cenário de governabilidade "muito difícil".

A dupla verbalizou uma leitura comum entre personagens próximos de Lula. Guimarães fez o desabafo numa reunião interna noticiada pela Folha. Costa lançou o diagnóstico numa entrevista ao G1. Os dois foram até mais brandos do que outros petistas influentes, que andam fazendo queixas a portas fechadas.

As derrotas e tropeços das últimas semanas levaram antigos conselheiros de Lula a enxergarem um risco de deterioração continuada da capacidade política do governo. Na prática, estão em jogo a ampliação do poder de grupos do Congresso e a redução definitiva do peso do Planalto nas discussões travadas ali.

Esses petistas afirmam que Lula deveria refundar o pacto que mantém o governo de pé. O primeiro passo seria uma reforma para redistribuir os ministérios ocupados por cada partido disposto a integrar a coalizão governista. A mudança teria o objetivo de forçar as legendas a indicarem ministros que garantam votos de suas bancadas no Congresso.

A velha guarda lulista aponta ainda a necessidade de um arranjo dentro de casa. Lula mantém um vácuo no Planalto com sua atuação bissexta como coordenador político. Para piorar, tem uma equipe em atritos dentro e fora do governo. A esta altura, segundo esses observadores, deveriam estar na mesa mudanças de nomes, métodos e prerrogativas.

A avaliação já foi levada ao gabinete de Lula, de maneiras diversas, por aliados que gozam da confiança do presidente. Nenhum deles saiu com a certeza de ajustes imediatos. O chefe, de acordo com eles, mantém um retrovisor voltado para seu segundo mandato e aposta numa decolagem econômica que tornaria qualquer mudança secundária.

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