sexta-feira, 14 de junho de 2024

ESCRITO NAS ESTRELAS

Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo

Governo Lula vive espécie de inferno astral porque não dá sinais críveis de que problema fiscal será equacionado

O governo Lula vive uma espécie de inferno astral. Uma conjunção de reveses políticos se somou à lenta mas constante degradação das contas públicas para converter-se num teste de estresse imposto pelo mercado. É cedo para decretar que o governo acabou, mas não seria inteligente ignorar os sinais de que o caldo da inflação poderá entornar.

É fato que o ministro Fernando Haddad, até um par de meses atrás celebrado como gênio pela Faria Lima, bobeou ao enviar para o Congresso a MP do PIS/Cofins sem combinar o jogo com quem manda no Parlamento, mas o verdadeiro problema atende pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente é um apóstolo da escola do "gasto é vida" e bloqueia na origem todas as propostas da equipe econômica para controlar o déficit pelo lado das despesas.

A "Weltanschauung" vintage de Lula é bem resumida pela caótica operação de compra de arroz importado após a enchente no RS. O diagnóstico estava errado, o plano, que incluía tabelamento de preços, continha equívocos e a execução foi desastrosa. O único item que não apresentou problema foi o desenvolvimento da logomarca do governo federal sob a qual o arroz seria vendido ao povo.

Propostas coerentes de equacionamento do nó fiscal exigem mexer nas receitas e nas despesas. E o lugar óbvio para cortar são os gastos tributários de baixo retorno social, coisas como a desoneração da folha e a Zona Franca de Manaus. É nesse ponto que Lula encontra um sócio no problema. O Congresso já deu repetidos sinais de que resistirá a esse tipo de corte. Parlamentares vivem em gostosa promiscuidade com os lobbies beneficiados por essas medidas. E fica pior. Não há nenhum motivo para achar que essas forças não conseguirão perenizar prebendas na regulamentação da reforma tributária.

Por mais otimista que eu tente ser, não vejo como rejeitar liminarmente a análise daqueles que descrevem o Brasil como um suave fracasso.

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