Bolsonaro tenta usar disputa na Câmara para barganhar
anistia
Capitão usa
perdão a golpistas como moeda de troca na disputa pela presidência da Câmara
Nem Ruy Barbosa
escapou da fúria dos golpistas verde-amarelos. Ao invadir o Supremo Tribunal
Federal, a turba avançou contra um busto do jurista baiano. A peça de bronze
foi arrancada do pedestal e atirada ao chão. Apesar do choque com a violência,
a ministra Rosa Weber não quis restaurar a estátua. Disse que as cicatrizes
serviriam de “alerta às gerações futuras”.
Ontem o bolsonarismo
voltou a vilipendiar a memória do conselheiro. Seu nome foi citado quatro vezes
em relatório do deputado Rodrigo Valadares que pede anistia aos criminosos do 8
de Janeiro. Os mesmos que danificaram o busto e tentaram destruir a democracia
brasileira.
No texto apresentado
à Câmara, Valadares afirmou que a anistia seria necessária para “pacificar o
país”. Ele descreveu os golpistas como figuras inofensivas, que “não souberam
expressar seu anseio por liberdade” após a derrota do capitão.
Para
defender o indefensável, o deputado citou um discurso de 1905 em que Ruy define
a anistia como “ remédio final para o abonançamento das paixões”. Morto há mais
de um século, o jurista não pode contestar a apropriação indébita.
O perdão aos
golpistas virou moeda de troca na disputa pela presidência da Câmara. Jair
Bolsonaro avisou que só apoiará quem garantir impunidade à sua tropa. Como seu
partido tem a maior bancada da Casa, a barganha tem fortes chances de
funcionar.
Ontem o PP
de Arthur Lira substituiu integrantes da Comissão de Constituição e
Justiça que ensaiavam votar contra a anistia. O chefão da Câmara conta com a
ajuda de Bolsonaro para eleger seu candidato, o deputado Hugo Motta.
Se depender da
presidente da CCJ, Caroline de Toni, a boiada passará com folga. “A população
quer a anistia”, afirmou a bolsonarista, sem disfarçar a parcialidade.
Ao
pressionar pela anulação de processos e condenações do 8 de Janeiro,
Bolsonaro finge defender velhinhas e patriotas de Bíblia na mão. Na verdade,
está preocupado em salvar a própria pele. Nas próximas semanas, a Polícia
Federal deve indiciá-lo como chefe da trama golpista. A anistia é sua única
esperança para recuperar
os direitos políticos e se livrar da cadeia.
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