Firmas captam dinheiro, investimento produtivo
parece reviver, mas juros são de calamidade
Por
um lado, a conversa na praça do mercado é de "crise de confiança" em
Luiz Inácio Lula da
Silva –como o governo vai lidar com a dívida
que cresce sem parar. O problema nem precisaria de nome. Basta olhar as
taxas de juros no
atacadão do mercado de dinheiro, que definem o custo de financiamento da dívida
do governo e, pois, na prática, o piso geral das taxas. Não param de subir, a
caminho do monte da calamidade. A taxa real de um ano passa de 8%; a Selic pode
ir a 13,5%, a julgar pelos preços da praça.
Por
outro lado, não necessariamente de modo contraditório, parece haver sinais de
alguma confiança na economia, em sentido ligeiramente diferente da expressão.
O dinheiro levantado pelas empresas no mercado de capitais
até setembro foi recorde, segundo dados da Anbima. De janeiro a setembro, foram
R$ 541,9 bilhões, 16% mais do que em 2023 inteiro, ano bichado pelo crime
da Americanas e outros problemas. Ainda assim.
Mercado
de capitais: crédito por meio da venda de debêntures e outros títulos de
dívida. O dinheiro pode ser empregado em capital de giro, investimento na
expansão do negócio ou em empreendimento novo, melhora do perfil da dívida
(custos e prazos).
Ainda
é crédito caro, embora movimentações e mudanças no mercado tenham reduzido o
custo em relação aos pisos das taxas (como as pagas pelo Tesouro). De qualquer
modo, recorde no mercado de capitais não é sinal de desconfiança.
Há
indícios, com dados ora incompletos, de que o investimento na economia se
recupera, ainda que devagar. Investimento, neste caso, são recursos destinados
à ampliação da capacidade de produção de bens e serviços (residências,
instalações produtivas, máquinas, equipamentos, softwares etc.).
Por
exemplo, a importação de bens de capital (máquinas, equipamentos etc.) está
crescendo rápido e mais rápido do que o total de compras brasileiras no
exterior. Há empresa por aí, pois, dedicada a ampliar a capacidade (que, pela
estatística convencional, estaria no limite), renovar equipamentos e coisas
assim. Enfim, diminui o saldo
comercial (exportações menos importações). Dentro de certos limites, pode
ser bom sinal. Fora dos limites, pode indicar superaquecimento da economia.
Sim,
a taxa de investimento (a fatia do PIB dedicada ao investimento) ainda é menos
do que medíocre. Não sustenta crescimento duradouro. Mas talvez algo se mova.
Não
se sabe quanto tempo vão durar certas animações (nem se previa que elas viriam,
como se recorda). A soma dos rendimentos do trabalho cresce rápido, o gasto do
governo cresceu muito (também nos estados e municípios, em particular neste ano
eleitoral).
Mas
as condições financeiras pioram: juros com cara de calamidade e dólar a R$
5,70. A
Selic vai subir. Há problemas importados, por assim dizer: descrença na
retomada chinesa, perspectiva de os juros caírem mais devagar do que o previsto
nos EUA e de aumentarem caso sobrevenha Trump 2, o que já influencia preços e
taxas por lá e por aqui.
Nosso
grande nó imediato, bidu, é a descrença na capacidade do governo Lula de
apresentar um plano para, mesmo no médio prazo, conter o aumento de gastos
obrigatórios e a dívida, ora sem limite. Não tomar providências pode dar em
besteira feia, até de modo súbito. É ainda mais deprimente quando se nota que
há sinais de vida na economia brasileira.
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