Curva de aprendizado e carta branca da Suprema Corte tornariam segundo mandato mais ameaçador do que o primeiro
Pelos agregados de pesquisas, há mais ou menos 50% de chance de que Donald Trump triunfe no pleito do próximo dia 5 de novembro.
No século 19, Thomas Carlyle desenvolveu a teoria do grande homem, segundo a qual a história universal não seria muito mais do que a somatória das qualidades inatas de líderes excepcionais. Essa nunca foi uma boa teoria, mas também não dá para cair no extremo oposto e reduzir a zero o peso das características individuais de dirigentes, como às vezes parecem fazer escolas historiográficas concorrentes.
O interessante na tese de Carlyle é que podemos em princípio invertê-la e sustentar que os defeitos de líderes também têm impacto significativo sobre os acontecimentos. Para cada gênio como Alexandre, César e Napoleão existiria um Calígula, um Nero e um Hitler. É, se quisermos, a teoria do pequeno homem.
Não sou muito afeito a maniqueísmos, mas acho que há algo aí. Se Trump for eleito e tentar implementar algumas de suas propostas que parecem resultar mais de obsessões pessoais do que de reflexão racional, os EUA e o mundo estarão em maus lençóis.
Um exemplo banal. As tarifas de importação que ele ameaça impor para criar empregos domésticos catapultariam a inflação ao consumidor, o que forçaria o Fed a subir os juros. Má notícia para americanos e terráqueos.
Algo parecido vale para as ideias de Trump sobre segurança (a Otan e, portanto, os europeus que se cuidem) e ambiente (o já difícil enfrentamento da mudança climática regrediria bastante).
E fica pior. Mesmo figuras como Trump são capazes de aprendizado. No primeiro mandato, o profissionalismo da burocracia estatal americana serviu de anteparo a alguns desatinos e aos ímpetos autoritários do então presidente. Trump sabe disso e já deu sinais de que, em caso de vitória, vai fazer o que puder para substituir servidores de carreira por indivíduos leais a ele, não à Constituição.
Para agravar ainda mais as coisas, Trump serviria sob uma Suprema Corte ultraconservadora que já tomou decisões que praticamente asseguram sua inimputabilidade.
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