segunda-feira, 28 de outubro de 2024

FUTURO DA DIREITA PASSA POR ACOMODAÇÃO ENTRE BOLSONARO E TARCÍSIO

Malu Gaspar, O Globo

Numa eleição em que o Brasil rumou para o conservadorismo e a direita dominou o cenário, sobram interrogações sobre o dia seguinte, especialmente sobre os efeitos desse novo cenário sobre a configuração da direita e sobre a disputa pela presidência em 2026.

Uma das pistas para divisar uma resposta está na derrota no segundo turno dos candidatos pelos quais Jair Bolsonaro mais se empenhou —e que não por acaso ostentavam os discursos mais extremados. De Fred Rodrigues (PL), com quem o ex-presidente foi votar em Goiânia, a Bruno Engler, menino-prodígio do bolsonarismo em Belo Horizonte, passando por Cristina Graeml, apelidada de “Ivermectina Graeml” em Curitiba, todos apostaram na retórica agressiva ou na pauta de costumes para ganhar terreno e morreram na praia.

Duas derrotas em especial deram fôlego a desafiantes de Bolsonaro na direita: em Goiânia, onde Ronaldo Caiado emplacou Sandro Mabel (União), e Campo Grande, onde Teresa Cristina elegeu Adriane Lopes (PP). Ambos tem boas chances de chegar a 2026 como candidatos de seus partidos, justamente para aproveitar o apetite do eleitor pelo voto na direita e fazer boas bancadas para o Parlamento.

Candidatura para valer, porém, é outra coisa. Nesse quesito, a eleição mostrou que só uma liderança da direita hoje tem condições de fazer frente ao ex-presidente: Tarcísio de Freitas.

Num dos momentos mais críticos da campanha em São Paulo, quando Ricardo Nunes suava frio com a ascensão de Pablo Marçal, Bolsonaro recomendou que o governador largasse a mão do aliado e ele resistiu.

Ao se manter fiel ao prefeito e se tornar o fiador da vitória, Tarcísio não demonstrou apenas que tem vida própria na política. Com a eleição de Nunes e de 629 dos 645 prefeitos do estado, o governador também demarcou uma linha clara, como quem diz a Bolsonaro que, da divisa do estado para dentro, quem manda é ele.

A opção de Tarcísio de não se engajar e nem opinar sobre as disputas fora de São Paulo —a exceção foi um vídeo que gravou para Bruno Engler em Belo Horizonte —foi estratégica. O governador sabe que a vitória em São Paulo reforça seu potencial para 2026, mas não pretende nem decidir-se pela candidatura e nem comprar briga com Bolsonaro antes da hora.

O ex-presidente ainda acredita realmente que pode reverter a inelegibilidade e, enquanto essa possibilidade não for definitivamente sepultada —o mais provável hoje —, não vai ser Tarcísio quem a desafiará.

Como já dizia Magalhães Pinto, política é nuvem. Os ventos que sopraram na eleição municipal estão a favor do governador paulista. Se ele vai aproveitá-los, é cedo para dizer. Mas, se o fizer, o resto da direita (incluindo Bolsonaro) não terá alternativa a não ser seguir com ele.

Bookmark and Share

Nenhum comentário:

Postar um comentário