Campanha do emedebista foi tratada nos bastidores como
ensaio de uma nova frente ampla
Não à toa uma mesma palavra esteve presente nos discursos do
prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes, e do governador do estado,
Tarcísio de Freitas, ontem: futuro. Durante todo o processo eleitoral, a
coalizão construída para a campanha do emedebista foi tratada nos bastidores
como um laboratório de uma nova frente ampla nacional.
O fenômeno de uma grande união suprapartidária elegeu Lula
contra Jair Bolsonaro em 2022. Apenas dois anos depois, no entanto, o
presidente não cuidou para que as alianças nas quais o PT figurou nos pleitos
municipais tivessem uma configuração mais centrista, como aquela que levou
nomes como Simone Tebet, João Amoêdo e Armínio Fraga ao seu palanque. Agora, a
direita quer usar a vitória em São Paulo como ponto de partida para atrair
essas forças para o seu quadrado.
Será Tarcísio o nome à frente desse
projeto? Ninguém ousou dar um passo ainda mais explícito nessa direção nas
primeiras horas depois da vitória na mais imprevisível eleição em São Paulo
desde o advento do segundo turno, após a promulgação da Constituição.
Não seria o dia mais propício para isso, aliás, pois, horas
antes, o governador dera seu maior passo em falso numa campanha na qual teve
papel decisivo, ao, de forma absolutamente imprópria, associar o adversário de
Nunes, Guilherme Boulos, a uma espécie de “salve” eleitoral do PCC.
Além disso, existe o fator Jair Bolsonaro. Depois de amargar
algumas derrotas sentidas nesse segundo turno, o ex-presidente foi
propositalmente esquecido nos discursos da vitória, tanto pelo candidato, que
foi por ele submetido a sucessivas humilhações nos últimos meses, como, mais
surpreendentemente, pelo próprio governador, que parece dar passos lentos rumo
a uma dissociação com seu padrinho político.
Além da exortação da tal frente, formada, aliás, por pelo
menos cinco partidos com assento no ministério de Lula, as falas dos vencedores
neste domingo deixam claro outro desafio para o presidente: a ideia de que a
esquerda não tem entregas, não fala mais com o povo pobre, pois teria sido
sequestrada pelo “identitarismo”, como disse Tarcísio.
A vitória maiúscula de Nunes em todas as periferias de São
Paulo é citada pelos coordenadores de sua campanha como uma demonstração de que
as políticas públicas dessa centro-direita mais pragmática seria mais eficiente
em mudar a vida dos mais pobres que as da esquerda lulista.
O desafio para o presidente está dado. Sua maior aposta
neste ano, Boulos, saiu do mesmo tamanho de quatro anos atrás, só que com muito
mais estrutura e dinheiro. É mais um dos resultados que forçam uma reflexão na
esquerda a respeito da necessidade de formar novas lideranças e, sobretudo, se
abrir para novas visões de mundo.
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