Retomada do controle do Orçamento, reforma ministerial e
sucessão na Câmara serão temas da volta do mundo político a Brasília
Passado o segundo turno, Brasília volta a funcionar com
força total com foco em quatro temas principais, todos interligados: a
necessidade do governo de promover um corte estrutural de gastos que mantenha
de pé o arcabouço fiscal, o acordo entre os Poderes para disciplinar as emendas
parlamentares, a troca de comando na Câmara e no Senado e uma esperada reforma
no primeiro escalão do governo.
Uma das coisas que ficaram nítidas nas eleições municipais
foi o peso do dinheiro vindo de Brasília nos resultados que inflaram as siglas
do Centrão e da direita. São dois os dutos pelos quais jorrou a dinheirama: o
fundo eleitoral inflado pelo Congresso e as emendas Pix, que, agora, deverão
mudar, a partir da puxada no freio dada pelo Supremo Tribunal Federal.
As várias modalidades de emendas, além da Pix, e seu caráter
cada vez mais impositivo tiraram do Executivo uma das principais armas de que
sempre dispôs para fazer política. O resultado é que muitos partidos com
gabinetes na Esplanada fizeram campanhas completamente dissociadas de Lula ou
do governo, sem deles depender e, sobretudo, sem defendê-los, fazendo com que a
esquerda saia bem mais enfraquecida do mapa e, assim, largue atrás na montagem
de chapas para a Câmara e o Senado daqui a dois anos.
Ainda há reflexos possíveis na montagem de
uma coalizão para a sucessão do próprio Lula, por mais que a literatura de
ciência política seja sempre muito cautelosa ao ver reflexos claros das
eleições municipais na disputa presidencial. Mas é impossível negar: partidos
que se articularam em frentes como a paulistana, em que seis siglas com nove
assentos no ministério de Lula apoiaram Ricardo Nunes, já falam em repetir a
dose lá na frente, a depender de como estiver a avaliação do governo e de quem
for o candidato de centro-direita a desafiar o presidente.
O Planalto já percebeu que está numa armadilha, em que dá
casa, comida e roupa lavada à base de emendas Pix para legendas que, mais
adiante, poderão pegar as trouxas e tomar outro caminho. É urgente para Lula
retomar alguma margem de manobra sobre o pouco que resta do Orçamento para
fazer política e investimentos. E esse pouco, já em parte loteado pelo
Congresso, vai ficando a cada ano menor graças ao crescimento dos gastos
obrigatórios, com suas vinculações.
É nesse flanco que o projeto que vem sendo urdido na equipe
econômica quer atuar. Para que ele tenha êxito, depende do convencimento prévio
do próprio Lula, sempre hesitante diante da ideia de ser ele a cortar gastos em
áreas como assistência social, saúde ou educação.
Fernando Haddad terá de fazer prevalecer sua ideia de que o
arcabouço fiscal precisa se mostrar hígido para que o Brasil recupere o grau de
investimento, os juros possam voltar a cair em 2025, e o mercado doméstico, que
anda sobressaltado sem razões objetivas tão claras, sossegue.
Contará com a pressão contrária do PT, que começará a viver
a ebulição interna pela troca de comando nacional, acirrada pelos maus
resultados do partido nas urnas. Interessa ao grupo de Gleisi Hoffmann
estressar ainda mais a relação com a área tachada de “fiscalista” do governo,
para tirar do foco o desempenho pífio dos candidatos lançados ou apoiados pelo
partido em todo o país, inclusive no Nordeste.
Outro ponto de atenção para a política virá da sucessão de
Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, também ela influenciada pelas eleições, com
potencial de deflagrar ou engordar uma dança das cadeiras nos ministérios. Lira
tem dito a aliados que blindará a disputa na Câmara das pautas bolsonaristas
mais ruidosas, em reação à esperada ofensiva de Jair Bolsonaro depois do ganho
de prefeituras do PL e da iminência de que os inquéritos contra ele e aliados
sejam concluídos.
O governo tem de evitar que temas como a anistia aos
golpistas avancem sem controle e se tornem compromissos dos postulantes a
comandar o Legislativo, justamente em seus dois anos finais de mandato.
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