Pode-se fazer uma previsão bem aproximada do consumo de
energia e, pois, dos preços do petróleo. Até que estoura uma guerra
O Fundo Monetário Internacional trouxe notícias sobre o
Brasil nesta semana. A boa: pela nova projeção, que aparece no Panorama
Econômico Mundial, a economia brasileira deverá crescer 3% neste ano. A ruim: a
dívida pública continuará subindo neste e nos próximos dois anos, de acordo com
o relatório Monitor Fiscal.
O governo, claro, gostou da primeira e rejeitou a segunda.
Mas uma ampla opinião entre economistas brasileiros concorda com as duas
informações. Na verdade, é o contrário. O FMI é que chegou agora às projeções
já feitas por aqui. É normal.
O fundo produz duas versões por ano do
extenso documento que dá uma geral na economia mundial. A instituição tem seus
próprios especialistas, mas está claro que se baseia em dados produzidos
localmente. E esses dados são gerados toda semana.
O Boletim Focus, publicado toda segunda-feira pelo Banco
Central (BC), traz o que se chama de “consenso de mercado”. Não é, pois, a
opinião do BC, mas de mais de uma centena de instituições financeiras e
consultorias que, toda sexta-feira, enviam seus cenários para o banco. Os
técnicos tabulam tudo no fim de semana e chegam às medianas, publicadas no
Focus.
Muita gente reclama dos erros nas previsões. O
presidente Lula e
o ministro Haddad não perdem oportunidade de lembrar que, no início deste ano,
o Focus previa um crescimento bem menor do que de fato vem ocorrendo. Mas é
normal, em qualquer país, que previsões sejam refeitas. Elas refletem os dados
disponíveis no momento, um quadro que pode mudar.
É possível antecipar com alguma antecedência o tamanho da
safra agrícola, incluindo aí previsões do tempo. Não se prevê, entretanto, um
desastre climático, uma mudança brusca que derruba plantações. Do mesmo modo,
observando dados sobre a economia mundial, pode-se fazer uma previsão bem
aproximada do consumo de energia e, pois, dos preços do petróleo. Até que
estoura uma guerra, e lá se vão os prognósticos.
E o dólar? Pelo Boletim Focus, a moeda americana será
negociada a R$ 5,42 em 31 de dezembro deste ano. Qual a chance de acertar?
Zero. E, se acertar, terá sido por acaso. São muitas variáveis em jogo. Se
Trump ganhar, espera-se um dólar mais forte no mundo todo e, pois, a
desvalorização das moedas locais, incluindo o real. Se Kamala ganhar, o cenário
será diferente. Uma declaração desastrada de Lula — daquelas que rejeitam
cortes de gastos — faz subir o dólar e os juros.
Tudo considerado, poderá perguntar o leitor: se é assim, por
que fazer previsões? Porque elas indicam as tendências, mostram o que seria o
normal, descontados os eventuais desvios. Por isso são constantemente refeitas,
agregando novos dados. No fim das contas, dá certo.
Neste momento, governo, economistas e FMI concordam que o
Brasil crescerá em torno de 3% neste ano. O governo é sempre um pouco mais
otimista, mas também ele esperava menos quando 2024 se iniciou. Quanto às
contas públicas, FMI e boa parte dos economistas brasileiros concordam que
haverá déficits expressivos em todos os anos do governo Lula. Gastará mais do
que arrecada. O ministro Haddad continua falando em déficit zero, ou perto
disso, mas há muita desconfiança na praça.
Não por causa dele, ministro, mas por causa de Lula, de
parte do governo e do Congresso. Neste lado do cenário, ou o pessoal quer
gastar ou quer oferecer reduções de impostos e subsidiar certos setores da
economia. Combinação explosiva: mais gasto menos receita.
O mercado aprecia quando Haddad declara que as metas do
arcabouço fiscal — déficit zero, com ganhos de receita e cortes de gasto —
serão cumpridas. Declarações nesse sentido derrubam dólar e juros, empurram a
Bolsa para cima. O pessoal desconfia é da capacidade e da força política do
ministro de impor essa agenda dentro do governo e no Congresso.
Enquanto permanece a desconfiança, a perspectiva é de
crescimento menor em 2025, por causa dos juros altos, consequência dos
déficits, da dívida pública em alta.
Viram como é difícil acertar as previsões?
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