Fundamentos das pesquisas dos EUA mostram favoritismo de
Trump
O ex-presidente Donald Trump está com vento favorável em
relação à vice-presidente Kamala Harris segundo as principais pesquisas nos
Estados Unidos, mas seu favoritismo não vem apenas de estar à frente nos
chamados estados-pêndulo, por décimos de percentuais em alguns casos. Trump
também é o mais provável vencedor segundo os fundamentos das pesquisas.
Os levantamentos mostram que o eleitor americano vê como
principal problema do país o custo de vida provocado pela inflação, que estava
forte entre 2021 e 2022.
Também se preocupa com o aumento da imigração e com a
geração de empregos. O quadro é o mesmo tanto nos Estados Unidos como um todo
como nos estados-pêndulo, variando apenas o topo do ranking. No Arizona, em
Michigan e na Pensilvânia, é imigração. Na Carolina do Norte e no Wisconsin,
custo de vida. Em Georgia e Nevada, emprego.
O eleitor americano, em seu conjunto, acha
que sua vida está pior do que há quatro anos. Isso tende a prejudicar o
incumbente ou o candidato que o representa, como é o caso de Kamala.
Segundo a You Gov, uma das mais respeitadas nos Estados
Unidos, o eleitor não vê Kamala dando foco às questões que mais preocupam o
eleitorado, e enxerga Trump fazendo isso. Imigração e custo de vida são pilares
da campanha de Trump, o que faz com que ele paute o debate.
Isso é mais importante do que a "corrida de
cavalos" que mostra os dois emparelhados. Pelos agregadores de pesquisa
mais usados dos Estados Unidos, é possível a Trump se tornar o republicano com
mais delegados (312) desde George Bush pai em 1988 (426). Na fotografia do
momento teria menos, de 276 a 287, ainda assim acima dos 270 suficientes para
eleger.
Toda a atenção de uma nação de 330 milhões de habitantes,
dos quais espera-se que um contingente em torno de 160 milhões vote, está
voltado para os sete estados-pêndulo (ou "swing states"), em que há
empate técnico entre os dois. Se a tradição valesse, Kamala ganharia na
Pensilvânia, Michigan, Wisconsin e Nevada e se tornaria presidente. Trump
venceria na Georgia, Carolina do Norte e Arizona e isso não seria o suficiente.
A tradição até pode se confirmar esse ano, mas o que os agregadores de pesquisa
538 e Real Clear Polling mostram não é isso. Trump está na frente na
Pensilvânia, mantém Georgia, Arizona e Carolina do Norte e só perderia em
Michigan e Wisconsin. O 538 dá Nevada para os democratas e o Real Clear para os
republicanos, mas isso não altera o cenário.
Um dado intrigante é que Trump não descola de Kamala mesmo
com tudo conspirando a seu favor. Ou há erro nas pesquisas, ou o ex-presidente
tem um teto provocado pela sua alta rejeição.
Não se deve esperar de pesquisas uma precisão que elas não
conseguem entregar. Isso no Brasil é algo estabelecido, mas nos Estados Unidos
o peso e a cobrança que se faz em relação aos levantamentos é maior. "No
Brasil há voto popular. Aqui há Colégio Eleitoral", diz Clifford Young,
presidente de pesquisas do Ipsos. "A diferença em relação aos resultados é
mínima, mas a questão é até que ponto as pesquisas são ferramentas para
prognósticos. Por isso é importante olhar os agregadores", diz.
As pesquisas nos Estados Unidos mudaram sua metodologia
nessas eleições em relação a 2016 e 2020. Estão menos aleatórias. Tanto na
busca pelos entrevistados quanto na ponderação dos resultados depois da
pesquisa se dá um peso maior a eleitores de Trump. A razão é o que aconteceu
nos dois últimos pleitos: constatou-se que o eleitor trumpista respondia menos
aos pesquisadores. Houve uma subestimação do eleitorado republicano.
"Trump atraiu nas duas últimas eleições pessoas que normalmente não
participavam do processo político. Essa tendência antissistema não é captada,
como também não foi captada em relação a Bolsonaro. Foi um problema de três
pontos percentuais", afirma Young.
A estratégia do mercado de pesquisas foi aplicar ajustes,
cuja precisão será experimentada este ano. "Hoje se usa atrativos para
atrair o trumpista a responder a pesquisa. O recrutamento é feito com base no
registro dos eleitores. Aqui é possível saber o endereço de quem votou e de
quem não votou. É um ajuste de cadastro, não é mais amostra aleatória da
população", comenta Young.
O mercado também busca se adaptar a um meio em que está cada
vez mais difícil encontrar alguém que atenda um telefone. "O retorno médio
é de uma ligação respondida para cada 200. Antes era de 2% a 5%", comentou
Christopher Garman, cientista político e diretor da empresa de consultoria
Eurasia. Pesquisas presenciais, seja por ponto de fluxo ou por visitas
residenciais, não são feitas nos Estados Unidos, em razão do alto custo.
Os meios mais usados são o do recrutamento digital, usado
por empresas como a Atlas Intel ou a You Gov, por vezes com um painel de
eleitores relativamente fixo, que respondem aos questionários online com
frequência. Mas mesmo nessa modalidade as respostas têm caído, segundo Garman.
Pesquisas não faltam nos Estados Unidos, mas pesquisar está cada vez mais
difícil.
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