sexta-feira, 1 de novembro de 2024

POR QUE ACREDITO QUE KAMALA HARRIS VENCERÁ A ELEIÇÃO

Martin Sandbu, Financial Times / Valor Econômico

Sondagens eleitorais não estariam apontando com precisão o sentimento do cidadão dos EUA de que sua vida melhorou

Ainda faltam quatro dias, mas nem a melhor das coberturas da eleição presidencial dos EUA consegue nos dar qualquer ideia do rumo que ela vai tomar. Se você acreditar nas pesquisas, a corrida está cabeça a cabeça. Se você acreditar nos chamados modelos de previsão, Donald Trump tem ligeira vantagem sobre Kamala Harris.

Eu não acredito nem nas pesquisas nem nos modelos. Decidi começar a tratar as pesquisas como desinformativas após as eleições americanas de meio de mandato de 2022, nas quais muitas pessoas, cuja opinião sobre política dos EUA eu respeito mais do que a minha, previram a partir delas uma onda republicana.

Isso não ocorreu, e não vi nenhuma explicação convincente para voltar a confiar nas pesquisas dos EUA. Os erros das pesquisas em 2022 se somaram aos de 2016 e 2020. É claro, os institutos de pesquisa têm quebrado a cabeça sobre como se aproximar mais do resultado real desta vez. Nada disso, contudo, me faz pensar que seja sensato acreditar que as pesquisas trazem mais informação além do simples fato de que não sabemos muito sobre o resultado.

Uma “previsão” de quase 50-50 não diz nada - ou não diz nada além de: “não sabemos nada” sobre quem vencerá, em uma linguagem que finge dizer o contrário.

Portanto, no caso das eleições de 2024, procure aquelas dispostas a dar razões sobre por que fazem uma previsão falseável, mas definitiva, de que Trump vencerá ou de que Kamala vencerá (ou de que nenhum dos dois vencerá, algo concebível, embora implausível).

Prevejo que Kamala vencerá, e por uma margem sólida. Por quê? Em grande parte, porque acredito que o fator determinante da eleição “ainda é a economia, estúpido” - e por achar que os eleitores dão mais valor à força da economia dos EUA do que é captado pelas pesquisas eleitorais. (Além disso, acredito que a questão do aborto, que ajudou os democratas a superar as previsões há dois anos, na verdade, hoje está mais forte.)

A charada sobre o descompasso entre os fortes resultados econômicos (crescimento real de salários, um mercado de trabalho sólido, um boom industrial) e a falta de apoio ao governo atual nas pesquisas eleitorais pode ser resolvida de duas maneiras: questionando os dados econômicos ou os resultados das pesquisas eleitorais.

Considero mais plausível questionar as pesquisas eleitorais. Isso não se deve apenas aos erros recentes das pesquisas. Também se deve aos muitos eleitores que parecem estar, de fato, satisfeitos com a economia. O índice de confiança do consumidor de Michigan, ajustado corretamente para mudanças metodológicas, mostra clara tendência de alta desde o pico da inflação no verão americano de 2022, e alcançou níveis similares aos de quatro anos atrás. O indicador de confiança do consumidor do Conference Board também teve uma recuperação bastante forte.

Nesta questão, os leitores mais alertas poderiam, acertadamente, perguntar por que acredito nessas pesquisas e não nas eleitorais. E eu não teria uma resposta convincente - além de apontar que, ao contrário de pesquisas eleitorais passadas, as de confiança têm retratado em grande medida aquela que era a realidade econômica do momento, mostrando pontuações altas quando o emprego estava bem, a inflação, baixa e os salários reais, em alta.

Também citaria o maravilhoso relato do meu colega Robert Armstrong sobre sua visita a um shopping center, onde ele observou que, não importa o que possam dizer, os americanos estão consumindo como se os tempos fossem bons (foi o consumo deles que sustentou mais um trimestre de forte crescimento nos dados divulgados na quarta-feira). E, acima de tudo, os fatos falam por si, inclusive aqueles que sempre foram os mais pertinentes no comportamento dos eleitores dos EUA. Este é o preço médio nacional de um galão (3,785 litros) da gasolina em termos nominais: há um ano, ele custava US$ 3,478; há um mês, era US$ 3,216; hoje é de US$ 3,131.

Em um ano, um trabalhador precisava cumprir perto de entre 7 e 8 minutos de trabalho para comprar um galão do combustível. Hoje, precisa de pouco mais de 6.

Em outras palavras, não pode haver muita dúvida de que grande parte dos americanos está em situação melhor do que há quatro anos. Sou da crença de que isso, no fim das contas, influenciará o voto.

Um colega me perguntou se isso não seria uma expressão de meu desejo. E, sem dúvida, é. Mas é uma expressão de desejo ligada a alguns compromissos intelectuais.

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