A vitória do candidato Evandro Leitão (PT) com uma diferença
de votos que representa 0,76% dos eleitores votantes diz muita coisa. André
Fernandes (PL), por um triz, não é o prefeito eleito de Fortaleza. A frieza em
vestir-se de um personagem desmentido pela trajetória gravada em vídeos, o fato
de não ter nenhum trabalho relevante prestado à Fortaleza valeram de nada para
metade da cidade. O discurso após a vitória de Evandro demonstra o quanto o
quase-prefeito tem consciência do seu capital político. Então, é possível se
perguntar: André Fernandes investirá no personagem moderado?
O tempo dirá, mas enquanto isso, o País precisa tornar
corriqueiro o exemplo do ex-deputado paranaense Fernando Francischini, cassado
pelo TSE, em 2021, por divulgar informações falsas. Ninguém me tira da cabeça
que impunidade gera, sim, cada vez mais extremismos. Com isso, não defendo
censura ou qualquer outra forma que limite a liberdade de expressão de quem
quer que seja. Defendo que cada pessoa seja responsabilizada pelo que diz e
faz.
Na última semana por exemplo, a candidata a vice na chapa do
André Fernandes, Alcyvania Pinheiro (PL) afirmou que os postos de saúde de
Fortaleza distribuem cartilhas ensinando a abortar em casa e que os hospitais
municipais realizam o procedimento, o que causou forte reação dos médicos por
meio de suas entidades. Mas é pouco. A moça precisa ser responsabilizada pelo
que disse. Fortaleza tem que saber se há ou não a tal cartilha. Os hospitais
precisam ser investigados e caso a ex-candidata a vice tenha usado de
informações falsas com fins eleitorais, deve ser punida.
O Conselho de Ética da Câmara de Vereadores, da mesma forma,
não pode deixar o Inspetor Alberto (PL) considerar que pode fazer qualquer
bobagem que depõe contra sua própria inteligência, mas que ameaça a vida dos
outros – além da forte inclinação escatológica que o rege – passar como se
fosse um mero gesto de campanha.
Em nível nacional, o ex-candidato Pablo Marçal tem que ser
julgado pelo crime de divulgar atestado médico falso contra Guilherme Boulos
(PSOL), e o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, também, por dizer dois
dias antes do pleito que o PCC estava apoiando o candidato pessolista.
Analistas jurídicos ouvidos em uma reportagem da Folha de São Paulo, na última
segunda-feira, afirmaram que o episódio pode custar o mandato de Tarcísio. No
dia seguinte à fala, o governador paulista teria afirmado que “havia cometido
um erro”.
Não é mais possível dar nomes amenos para crimes graves.
Atentar contra a honra, fazer ameaças à vida, caluniar, injuriar são crimes
contra a pessoa. Não é erro, não é gesto impensado, não é campanha. A extrema
direita nomeia esse tipo de crime como “liberdade de expressão”, num
reducionismo exagerado que cega até mesmo as pessoas mais esclarecidas entre os
apoiadores desse pensamento. Aqui e no mundo.
Quem se lembra da “mamadeira de piroca" distribuída nas
escolas públicas? E do livro que ensinava crianças a fazerem sexo nas escolas?
Bolsonaro e muitos candidatos da extrema direita foram eleitos com essas
fantasias. É preciso dar nome às coisas. Isso é crime.
CHARGE / Clayton
Nenhum comentário:
Postar um comentário