Seu Tuta, fundador da Jovem Pan, morre aos 93 anos
Filho de Paulo Machado de Carvalho, comunicador começou
carreira nos anos 1940 e fundou emissora na década de 1970
São Paulo - Morreu nesta segunda-feira (4), aos 93
anos, Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Seu Tuta, comunicador e fundador
da Jovem
Pan. A morte foi confirmada em nota da emissora, que não detalhou a causa.
Seu Tuta começou no meio jornalístico no final dos anos 1940
e ficou conhecido por criar os festivais na TV Record que culminaram na
explosão de movimentos musicais como a Tropicália e a Jovem Guarda.
Ele buscou ampliar o escopo das transmissões esportivas ao
vivo, a partir de estádios fora do eixo Rio de Janeiro-São Paulo.
Fundou a Jovem Pan na década de 1970 a partir da antiga Rádio Panamericana e
idealizou a expansão da emissora para os meios digitais.
Segundo a emissora, Seu Tuta estava internado no hospital
Sírio-Libanês com a saúde debilitada.
Foi substituído em 2014 pelo filho, Antônio Augusto Amaral
de Carvalho Filho, o Tutinha, na presidência da emissora, que ao longo do
governo Jair
Bolsonaro (PL)
se notabilizou como voz
do bolsonarismo e virou
alvo do Ministério Público Federal por abrigar comentaristas que
defenderam teses golpistas.
Filho de Paulo Machado de Carvalho, conhecido como Marechal
da Vitória por chefiar delegação brasileira nas Copas do Mundo de 1958 e 1962,
Tuta começou a trabalhar na Rádio Panamericana em 1949, como secretário do
irmão Paulo Machado de Carvalho Filho.
O irmão deixou a emissora quatro anos depois para chefiar a
recém-criada Rádio Record, e Tuta assumiu a direção-geral da Panamericana tendo
21 anos de idade.
Saiu, tempo depois, rumo à TV Record, fundada por seu pai, e
lá formatou programas com personalidades como Jô Soares, Hebe Camargo e Ronald
Golias.
A experiência na emissora do pai foi importante para a volta
à Panamericana em 1966. A rádio passava por problemas financeiros e de
audiência, e Tuta liderou uma série de mudanças na programação. As
transformações levaram a um novo nome: Jovem Pan, sugerido por Paulo Machado de
Carvalho.
Novo nome posto, Tuta passou a fazer mudanças no jornalismo da
emissora. Surgiram entre 1971 e 1972 o "Equipe Sete e Trinta",
"Jornal de Integração Nacional" e o "Jornal da Manhã", este
último no ar até hoje. No ano seguinte, comprou as ações da rádio e tornou-se o
único proprietário.
A rádio transmitia gêneros musicais mais conhecidos pelo
público jovem, focando o pop e o pop rock, além das músicas mais tocadas em
festas. O jornalismo pautou a transmissão esportiva ao vivo. Nesse aspecto,
inovou ao difundir jogos por meio das emissoras componentes da Jovem Pan.
A restruturação da empresa gerou resultados e permitiu
expansões, com a criação da Jovem Pan 2, em 1976, e o Jovem Pan SAT, em 1993,
oferecendo transmissão via satélite para o Brasil inteiro e aumentando a
cobertura jornalística para Brasília e Rio de Janeiro, além de outras capitais.
No mesmo ano veio a criação do Pânico, um dos primeiros
programas transmitidos diretamente pela emissora em rede nacional. Fez tanto
sucesso com piadas hoje consideradas politicamente incorretas que ganhou versão
na TV, transmitida inicialmente pela RedeTV! e, depois, pela Rede Bandeirantes.
Apesar de não estar mais nas telas, o Pânico continua no ar
até hoje.
Em 1997, foi lançado o site na internet da Jovem Pan,
replicando o noticiário nacional e internacional transmitido pela rádio. Dez
anos depois, surgiu a Jovem Pan Online, que Tuta acreditava ser um primeiro
passo para a criação de uma TV do grupo por ele criado.
A sonhada emissora nas telas só veio ao ar em 2021, dedicada
a notícias e sob o comando de Tutinha, substituto do pai. A ideia era tornar o
canal, hoje apenas por assinatura, também aberto, por meio da concessão da
antiga MTV.
Mudanças na nova gestão foram vistas especialmente em termos
de posicionamento político, com proximidade do bolsonarismo, crescimento de
audiência e aumento de verbas federais na gestão Bolsonaro.
Em 2019, já fora da presidência da Jovem Pan, Tuta estrelou
o podcast "Dois Diretores em Cena", em que relembrava, junto do
diretor de novelas Nilton Travesso, episódios históricos da TV e do rádio, com
áudios originais dos momentos. O programa durou até novembro de 2021.
Tuta também escreveu um livro, "Ninguém Faz Sucesso
Sozinho" (ed. Escrituras, 1995), contando detalhes da sua trajetória de
vida e profissional.
Repercussão
O governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas (Republicanos), lembrou a carreira de Tuta na TV Record e a
transformação na Panamericana. "Seu Tuta deixa um legado eterno para a
comunicação", afirmou. Ele decretou luto oficial no estado de três dias.
Jorginho Mello (PL), chefe do Executivo estadual em Santa
Catarina, afirmou que o empresário "dedicou sua vida a construir uma
imprensa livre e a garantir o espaço para a liberdade de expressão".
Milton Neves, jornalista esportivo, publicou foto e afirmou
que o comunicador teve vida brilhante na TV Record e na Jovem Pan, lembrando
ter trabalhado com ele por 33 anos.
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