segunda-feira, 4 de novembro de 2024

MORRE TUTA

Da Folha de S.Paulo

Seu Tuta, fundador da Jovem Pan, morre aos 93 anos

Filho de Paulo Machado de Carvalho, comunicador começou carreira nos anos 1940 e fundou emissora na década de 1970

São Paulo - Morreu nesta segunda-feira (4), aos 93 anos, Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Seu Tuta, comunicador e fundador da Jovem Pan. A morte foi confirmada em nota da emissora, que não detalhou a causa.

Seu Tuta começou no meio jornalístico no final dos anos 1940 e ficou conhecido por criar os festivais na TV Record que culminaram na explosão de movimentos musicais como a Tropicália e a Jovem Guarda.

Ele buscou ampliar o escopo das transmissões esportivas ao vivo, a partir de estádios fora do eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Fundou a Jovem Pan na década de 1970 a partir da antiga Rádio Panamericana e idealizou a expansão da emissora para os meios digitais.

Segundo a emissora, Seu Tuta estava internado no hospital Sírio-Libanês com a saúde debilitada.

Foi substituído em 2014 pelo filho, Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, na presidência da emissora, que ao longo do governo Jair Bolsonaro (PL) se notabilizou como voz do bolsonarismo virou alvo do Ministério Público Federal por abrigar comentaristas que defenderam teses golpistas.

Filho de Paulo Machado de Carvalho, conhecido como Marechal da Vitória por chefiar delegação brasileira nas Copas do Mundo de 1958 e 1962, Tuta começou a trabalhar na Rádio Panamericana em 1949, como secretário do irmão Paulo Machado de Carvalho Filho.

O irmão deixou a emissora quatro anos depois para chefiar a recém-criada Rádio Record, e Tuta assumiu a direção-geral da Panamericana tendo 21 anos de idade.

Saiu, tempo depois, rumo à TV Record, fundada por seu pai, e lá formatou programas com personalidades como Jô Soares, Hebe Camargo e Ronald Golias.

A experiência na emissora do pai foi importante para a volta à Panamericana em 1966. A rádio passava por problemas financeiros e de audiência, e Tuta liderou uma série de mudanças na programação. As transformações levaram a um novo nome: Jovem Pan, sugerido por Paulo Machado de Carvalho.

Novo nome posto, Tuta passou a fazer mudanças no jornalismo da emissora. Surgiram entre 1971 e 1972 o "Equipe Sete e Trinta", "Jornal de Integração Nacional" e o "Jornal da Manhã", este último no ar até hoje. No ano seguinte, comprou as ações da rádio e tornou-se o único proprietário.

A rádio transmitia gêneros musicais mais conhecidos pelo público jovem, focando o pop e o pop rock, além das músicas mais tocadas em festas. O jornalismo pautou a transmissão esportiva ao vivo. Nesse aspecto, inovou ao difundir jogos por meio das emissoras componentes da Jovem Pan.

A restruturação da empresa gerou resultados e permitiu expansões, com a criação da Jovem Pan 2, em 1976, e o Jovem Pan SAT, em 1993, oferecendo transmissão via satélite para o Brasil inteiro e aumentando a cobertura jornalística para Brasília e Rio de Janeiro, além de outras capitais.

No mesmo ano veio a criação do Pânico, um dos primeiros programas transmitidos diretamente pela emissora em rede nacional. Fez tanto sucesso com piadas hoje consideradas politicamente incorretas que ganhou versão na TV, transmitida inicialmente pela RedeTV! e, depois, pela Rede Bandeirantes.

Apesar de não estar mais nas telas, o Pânico continua no ar até hoje.

Em 1997, foi lançado o site na internet da Jovem Pan, replicando o noticiário nacional e internacional transmitido pela rádio. Dez anos depois, surgiu a Jovem Pan Online, que Tuta acreditava ser um primeiro passo para a criação de uma TV do grupo por ele criado.

A sonhada emissora nas telas só veio ao ar em 2021, dedicada a notícias e sob o comando de Tutinha, substituto do pai. A ideia era tornar o canal, hoje apenas por assinatura, também aberto, por meio da concessão da antiga MTV.

Mudanças na nova gestão foram vistas especialmente em termos de posicionamento político, com proximidade do bolsonarismo, crescimento de audiência e aumento de verbas federais na gestão Bolsonaro.

Em 2019, já fora da presidência da Jovem Pan, Tuta estrelou o podcast "Dois Diretores em Cena", em que relembrava, junto do diretor de novelas Nilton Travesso, episódios históricos da TV e do rádio, com áudios originais dos momentos. O programa durou até novembro de 2021.

Tuta também escreveu um livro, "Ninguém Faz Sucesso Sozinho" (ed. Escrituras, 1995), contando detalhes da sua trajetória de vida e profissional.

Repercussão

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), lembrou a carreira de Tuta na TV Record e a transformação na Panamericana. "Seu Tuta deixa um legado eterno para a comunicação", afirmou. Ele decretou luto oficial no estado de três dias.

Jorginho Mello (PL), chefe do Executivo estadual em Santa Catarina, afirmou que o empresário "dedicou sua vida a construir uma imprensa livre e a garantir o espaço para a liberdade de expressão".

Milton Neves, jornalista esportivo, publicou foto e afirmou que o comunicador teve vida brilhante na TV Record e na Jovem Pan, lembrando ter trabalhado com ele por 33 anos.

Bookmark and Share

Nenhum comentário:

Postar um comentário