Polícia Federal indicia Marçal por uso de documento falso
O laudo falso contra Guilherme Boulos (PSOL) foi
publicado nas redes sociais do empresário na antevéspera do primeiro turno das
eleições municipais. Perícia da PF concluiu que a assinatura do médico é falsa.
Assessoria de Marçal diz ele que será declarado inocente.
A Polícia Federal indiciou nesta sexta-feira (8) o candidato
derrotado à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal,
do PRTB, pelo
crime de uso de documento falso. Marçal apresentou um laudo falso contra o
adversário Guilherme
Boulos (PSOL)
na antevéspera do primeiro turno, em 4 de outubro.
Com isso, Marçal que era investigado passa à condição de
indiciado, quando o inquérito policial aponta pelo menos um indício de que ele
cometeu um crime. Após o indiciamento, a investigação continua. O próximo passo
é o envio do inquérito policial ao Ministério Público, que decide se oferece ou
não a denúncia. Caso o Ministério Público ofereça a denúncia e esta seja aceita
pelo juiz, o indiciado passa a ser réu em um processo criminal.
Marçal prestou depoimento nesta sexta por cerca de 3 horas
na Superintendência Regional da PF, na Lapa, Zona Oeste de São Paulo. Ele negou
qualquer envolvimento no episódio e disse que o suposto documento foi postado
pela equipe dele.
Procurada, a assessoria do empresário afirmou que ele será
declarado inocente.
"É nítido como a velocidade do julgamento moral para
aqueles que se identificam com a direita é significativamente mais rápido.
Nunca testemunhei uma resposta tão célere em uma investigação como essa. O fato
aconteceu no dia 04 de outubro e o indiciamento foi realizado em apenas 34
dias, um verdadeiro recorde. Isso nos leva a crer que, em um tempo ainda menor,
seremos declarados inocentes. Sigo acreditando na justiça, no Brasil e, acima
de tudo, no nosso povo", disse a assessoria.
Em 7 de outubro, a
perícia da PF concluiu que a assinatura do médico no documento é falsa. Os
peritos da PF investigaram e compararam várias assinaturas ao longo de vários
anos do médico José Roberto de Souza, CRM 17064-SP, que aparece como o
responsável pelo suposto documento.
O médico morreu em 2022 e, segundo a filha, a oftalmologista
Aline Garcia Souza, o
pai nunca trabalhou na clínica Mais Consulta, na cidade de São Paulo, e
jamais fez esse tipo de atendimento clínico de pessoas com dependência química.
Na conclusão grafotécnica, os peritos científicos da PF
afirmaram que as duas assinaturas não foram produzidas pela mesma pessoa.
“Verificou-se a prevalência das dissimilaridades entre a
assinatura questionada e os padrões apresentados, tanto nas formas gráficas,
quanto em suas gêneses, não havendo evidências de que tais grafismos tenham
sido escritos por uma mesma pessoa. As evidências suportam fortemente a
hipótese de que os manuscritos questionados não foram produzidos pela mesma
pessoa que forneceu os padrões”, disseram os peritos.
Os peritos também tentaram atestar a autenticidade do
documento publicado por Pablo Marçal, mas disseram que é preciso pedir novas
análises e também compará-las com outros laudos semelhantes produzidos pela
Mais Consulta, clínica do empresário.
“Logo, nos casos que os documentos não apresentem tais
elementos de segurança, não será possível atestar sua autenticidade por meio
dos exames periciais mencionados, havendo necessidade de análise de outros
elementos, como o registro oficial de emissão ou outra especificação qualquer
para emissão do referido documento, além de carimbos comuns ou secos, havendo a
necessidade de confronto com os padrões correspondentes", disse.
"No caso em questão, não se trata de um documento de
segurança, além de ter sido apresentado em via digital e não física. Assim, a
verificação de adulteração ou montagem eletrônica poderá ser realizada por
exames específicos que não foram objeto do presente laudo”, completaram os
peritos.
O que diz o médico
Luiz Teixeira da Silva Junior, sócio da clínica Mais
Consultas, empresa que aparece no laudo falso compartilhado por Pablo Marçal
(PRTB) contra Guilherme Boulos (PSOL), afirmou na tarde do domingo (6) que
nunca atendeu o deputado e negou ter participado da elaboração do documento,
que teve a veracidade contestada pelo Instituto de Criminalística de São Paulo.
Em nota, o empresário disse que seu nome e o de suas
empresas foram utilizados sem o seu consentimento "por pessoa que lhe é
desconhecida".
Processo criminal contra Marçal
A filha do médico que teve a assinatura fraudada no
documento publicado nas redes sociais de Pablo Marçal protocolou, neste sábado
(5), uma ação contra o empresário.
Carla Maria de Oliveira e Souza pediu a inelegibilidade de
Marçal "a título de urgência" (veja mais detalhes abaixo). A
aposentada é representada pelo advogado Felipe Torello Teixeira Nogueira.
José Roberto de Souza, pai de Carla Maria, aparece como o
profissional que teria atendido Guilherme Boulos (PSOL) após um suposto surto
por uso de cocaína. O médico, no entanto, morreu em 2022. De acordo com a
família, José Roberto nunca trabalhou na capital paulista, especialmente na
clínica "Mais Consultas", no bairro Jabaquara, que consta no laudo.
De acordo com a ação, José Roberto de Souza era
hematologista e nunca atuou como psiquiatra.
De acordo com o advogado Gabriel de Britto Silva, a ação
“tem por objetivo invalidar condutas ilícitas que lesem, dentre outras, a
moralidade administrativa e os princípios da Administração Pública."
A TV Globo entrevistou a outra filha de José Roberto, Aline
Garcia de Souza, que tem a assinatura do pai tatuada, e a tatuagem é diferente
da que aparece no documento.
"Não entendo como foi cair o nome e CRM do meu
pai", afirmou Aline. "Não entendi até porque meu pai não estava
ligado em questões políticas, nunca esteve. É descabível usar o nome de quem
nem está mais aqui para se defender. Sempre foi uma pessoa íntegra."
A Justiça Eleitoral determinou que a postagem fosse removida
do YouTube, TikTok e Instagram e ordenou
a suspensão dos perfis do candidato no Instagram. E o ministro
Alexandre de Moraes intimou Marçal a
depor por usar o X durante a proibição dessa rede social.
A campanha de Boulos protocolou na Justiça também no
sábado um
pedido de prisão e cassação da candidatura de Marçal.
Dono de clínica indiciado
Luiz Teixeira da Silva Junior, dono da clínica Mais
Consultas, que emitiu o laudo, já foi condenado
por falsificar diploma de curso de medicina e ata de colação de grau.
Em sua conta no Instagram, que foi desativada após a
repercussão do falso documento, ele se apresentava como patologista clínico,
perito judicial, escritor, diplomata adido de saúde, e aparecia ao lado de
famosos.
Nas redes sociais, Silva Junior aparece em foto ao lado de
Marçal usando um jaleco com o símbolo do Hospital Albert Einstein (veja foto
abaixo). Em nota, o hospital informou que "o profissional em questão nunca
atuou em suas unidades ou em qualquer outra atividade administrada pelo
Einstein.
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