segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

CONCLUSÃO DO ACORDO MERCOSUL-UE ESTÁ MAIS PERTO

Editorial Folha de S. Paulo

Negociação prospera, mas depende de cálculo político dos Parlamentos; deve-se considerar protecionismo dos EUA sob Trump

O acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE), em negociação há duas décadas, alcançou a etapa da decisão política dos Estados envolvidos. Está próximo de se concretizar, finalmente, um pacto inédito de livre comércio entre os blocos. Mas ainda há riscos de retorno ao lodaçal de debates em que ele se viu submerso por anos.

As negociações técnicas foram concluídas na sexta (29), com avanços em tópicos delicados a ambos os lados do Atlântico. Restam os impasses que dependem de aval dos Parlamentos de cada nação e a esperança de respostas conciliadoras nesta segunda (2).

Será, por óbvio, enorme a frustração se o caldo entornar no momento em que se antecipa uma guinada protecionista nos EUA sob liderança de Donald Trump. Negar o acordo nesse contexto contrariaria os próprios interesses da UE e do Mercosul.

É digno de nota que a negociação tenha prosperado nas últimas semanas, apesar das diatribes protecionistas da França e do anúncio de oposição ao acordo feito pela Polônia. Mas não passará incólume a manifestação da Alemanha sobre a urgência do livre comércio birregional.

Houve acertos relevantes, como abrandar as penas da UE a descumprimentos de normas pelo Mercosul, sobretudo as ambientais. Não foi pouco.

Mesmo imperfeito, o acordo traz redução ou isenção de tarifas para 99% dos itens comercializados, beneficiando a produção dos dois blocos. Mas haverá, claro, setores desafiados a adequar seus níveis de competitividade à franca concorrência.

Fechá-lo e submetê-lo à cúpula do Mercosul em Montevidéu, nos próximos dias 5 e 6, seria feito extraordinário. Deve-se cuidar, porém, de potenciais recuos na fase seguinte, da apreciação pelos Parlamentos envolvidos.

Ao contrário do que disse Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para quem a França "não apita nada", de Paris deve vir o principal veto ao pacto. E pode não ser o único.

Os protestos de agricultores franceses e poloneses, fartamente subsidiados, o intempestivo bloqueio das importações de carnes do Mercosul pela rede varejista Carrefour —desfeito dias depois— e o repúdio da Assembleia Nacional da França antecipam dias difíceis para instituir o acordo.

Os benefícios do livre comércio com o bloco sul-americano podem se diluir em cálculos populistas de governos e Legislativos das nações europeias. Seria lamentável que interesses políticos atropelassem o pragmatismo necessário para concluir um pacto promissor para as economias dos dois lados.

Bookmark and Share

Nenhum comentário:

Postar um comentário