Negociação prospera, mas depende de cálculo político dos
Parlamentos; deve-se considerar protecionismo dos EUA sob Trump
O acordo entre o Mercosul e
a União
Europeia (UE), em negociação há duas décadas, alcançou a etapa da
decisão política dos Estados envolvidos. Está próximo de se concretizar,
finalmente, um pacto inédito de livre comércio entre os blocos. Mas ainda há
riscos de retorno ao lodaçal de debates em que ele se viu submerso por anos.
As negociações técnicas foram concluídas na sexta (29), com
avanços em tópicos delicados a ambos os lados do Atlântico. Restam os impasses
que dependem de aval dos Parlamentos de cada nação e a esperança de respostas
conciliadoras nesta segunda (2).
Será, por óbvio, enorme a frustração se o caldo entornar no
momento em que se antecipa uma guinada protecionista nos EUA sob liderança
de Donald
Trump. Negar o acordo nesse contexto contrariaria os próprios interesses da
UE e do Mercosul.
É digno de nota que a negociação tenha prosperado nas
últimas semanas, apesar das diatribes protecionistas da França e do
anúncio de oposição ao acordo feito pela Polônia. Mas não passará incólume a
manifestação da Alemanha sobre a urgência do livre comércio birregional.
Houve acertos relevantes, como abrandar as penas da UE a
descumprimentos de normas pelo Mercosul, sobretudo as ambientais. Não foi
pouco.
Mesmo imperfeito, o acordo traz redução ou isenção de
tarifas para 99% dos itens comercializados, beneficiando a produção dos dois
blocos. Mas haverá, claro, setores desafiados a adequar seus níveis de
competitividade à franca concorrência.
Fechá-lo e submetê-lo à cúpula do Mercosul em Montevidéu,
nos próximos dias 5 e 6, seria feito extraordinário. Deve-se cuidar, porém, de
potenciais recuos na fase seguinte, da apreciação pelos Parlamentos envolvidos.
Ao contrário do que disse Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), para quem a
França "não apita nada", de Paris deve
vir o principal veto ao pacto. E pode não ser o único.
Os
protestos de agricultores franceses e poloneses, fartamente
subsidiados, o intempestivo bloqueio
das importações de carnes do Mercosul pela rede varejista Carrefour —desfeito
dias depois— e o repúdio da Assembleia Nacional da França antecipam dias
difíceis para instituir o acordo.
Os benefícios do livre comércio com o bloco sul-americano
podem se diluir em cálculos populistas de governos e Legislativos das nações
europeias. Seria lamentável que interesses políticos atropelassem o pragmatismo
necessário para concluir um pacto promissor para as economias dos dois lados.
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