segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

SOB NOVA GUARDA, BC TERÁ DE CARREGAR A POLÍTICA ECONÔMICA

Editorial Folha de S. Paulo

Autoridade monetária precisa se manter a salvo de pressão política para conter descrédito da gestão petista do Orçamento

Em meio à crise de confiança na gestão econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), será decisivo preservar a gestão autônoma das políticas monetária e cambial pelo Banco Central, que passará pela primeira troca de comando desde que se tornou autônomo.

Com três novos indicados para a diretoria, além do futuro presidente, Gabriel Galípolo, já aprovado pelo Senado, nomes escolhidos pela administração petista serão 7 dos 9 membros do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável pela definição da taxa básica de juros.

São ruidosos os clamores do partido e da ala política do governo por uma queda artificial da Selic e intervenções no mercado para controlar a taxa de câmbio —receita certa para um desastre ainda maior na economia.

Os novos indicados foram bem recebidos por especialistas, um bom sinal. Dois são funcionários de carreira que assumirão, se aprovados, as diretorias ligadas à regulação, conduta e comunicação, como tem sido a tradição. A outra vaga, na diretoria de Política Monetária, será ocupada por um nome de mercado.

Desde 1999, a política econômica busca se assentar em três pilares: metas fiscais para evitar aumentos desmesurados da dívida pública, metas de inflação e regime de câmbio flutuante.

O primeiro pilar não depende do BC, mas da Fazenda, e está fragilizado desde 2014, quando o país entrou numa crise orçamentária até hoje não superada.

Quanto aos outros dois, a cargo da autoridade monetária, pode-se dizer que houve momentos de insegurança, em especial no governo Dilma Rousseff (PT), mas até aqui sem afronta inequívoca que fosse capaz de danificar a credibilidade da autarquia.

Em 2021 o Congresso aprovou, felizmente, autonomia legal que estabeleceu mandatos fixos e não coincidentes com o calendário político, ferramenta consagrada para reforçar a atuação técnica.

Esses princípios, que não constam da cartilha petista, precisam ser preservados. A taxa de juros é a ferramenta de controle da inflação, fundamental para a preservação do poder de compra dos mais pobres. Tal gestão se dá sob parâmetros técnicos, e o trabalho é facilitado ou dificultado pela conduta do Executivo. No momento, as taxas sobem pela incontinência do Orçamento.

Merece atenção também a política cambial. O país tem cerca de US$ 360 bilhões em reservas, mas a posição é menor quando são incorporados os passivos de intervenções passadas.

Qualquer ação que dê margem à impressão de que se busca fixar um nível para a cotação do real por pressão política levará à perda de reservas. Não se pode permitir em nenhuma hipótese que seja danificada a posição credora do governo em dólares.

Nada indica até aqui que a nova gestão do BC será subserviente ao Planalto. Mas serão precisos vigilância e apoio da sociedade para que a autoridade monetária continue a realizar o seu trabalho.

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