Seria um erro não aproveitar momento para tentar tornar
os militares mais profissionais e mais legalistas
Entre as coisas que eu não achava que veria em vida está
a prisão
de um general de quatro estrelas por tentativa de golpe de Estado. É
verdade que Braga
Netto já estava na reserva e, por enquanto, amarga só uma prisão
preventiva.
Seu encarceramento, porém, faz com que eu suspenda meu
natural ceticismo em relação à Justiça brasileira e passe a considerar bastante
real a possibilidade de Jair
Bolsonaro e alguns de seus asseclas serem condenados e começarem a
cumprir pena em um par de anos.
Se estamos interessados em reduzir riscos
institucionais futuros, precisamos não apenas punir os golpistas com rigor como
também entender os processos que nos levaram à situação de perigo e como
escapamos dela.
Há uma turma ansiosa para deixar o episódio para trás que já
se prontifica a enaltecer a cúpula militar por ter resistido aos apelos
golpistas. Seria graças aos generais legalistas que não houve uma ruptura
democrática. Resisto a embarcar nessa corrente.
É fato que a maior parte dos comandantes não atravessou o
Rubicão da inconstitucionalidade, mas daí não decorre que as Forças
Armadas não tenham cometido uma série de erros que favoreceram
enormemente a conspiração. Deixar de punir casos gritantes de insubordinação
(general Eduardo
Pazuello na ativa participando de um comício bolsonarista, por
exemplo) e tolerar os acampamentos golpistas nas portas dos quartéis são os
mais óbvios.
Há também um problema
na formação dos oficiais, que seguem absurdamente se achando imbuídos do
poder de definir para onde o país caminha na política. É o caso até de inquirir
se os generais legalistas não infringiram seu dever funcional ao deixar de
prender as pessoas que propuseram o golpe, mas admitamos que essa é uma
situação mais difícil. Não dá para sair por aí prendendo gente sem prova
material e irrefutável do crime, ainda mais quando o presidente da República
está envolvido.
De todo modo, seria um erro não aproveitar o fracasso do
golpe para promover
mudanças que tornem as Forças Armadas mais legalistas e mais profissionais.
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