segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

CRIME ORGANIZADO NA AMAZÔNIA IMPÕE REAÇÃO IMEDIATA

Editorial O Globo

Apreensões feitas pela Polícia Federal na região indicam atuação cada vez maior de quadrilhas

A conjugação de altos rendimentos com nenhum risco de maiores punições provoca uma corrida do crime organizado para a exploração de atividades ilegais na Amazônia, na exploração de ouro, madeira, caça e pesca. Além do evidente reforço na vigilância e repressão, com uma coordenação entre instituições locais e federais, é preciso urgência na aprovação pelo Congresso de um Projeto de Lei apresentado em outubro, com a assessoria da Polícia Federal (PF), para elevar as penas de crimes ambientais cometidos por quadrilhas.

O assassinato do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista e servidor licenciado da Funai Bruno Pereira, em 2022, no distante Vale do Javari, perto das perigosas fronteiras com Peru e Colômbia, chamou a atenção para a pesca ilegal no local. A atuação de grupos criminosos naquela região amazônica começou a ser retomada assim que o reforço policial foi sendo relaxado.

A atração que as vastas oportunidades de negócios ilegais na Amazônia passou a exercer sobre organizações criminosas articuladas com esquemas internacionais de tráfico de drogas é comprovada pelo crescimento dos bens e valores apreendidos pela PF no combate a atividades de quadrilhas na região. De janeiro a outubro do ano passado, o que foi confiscado de grupos que cometem crimes ambientais na Amazônia chegou a R$ 1,15 bilhão, um terço de todas as apreensões feitas no período — de R$ 3,1 bilhões—, quase tanto quanto o R$ 1,17 bilhão confiscado em investigações sobre o tráfico de drogas. As apreensões feitas junto às quadrilhas flagradas em delitos contra a flora e fauna, sem considerar os valores bloqueados pela Justiça, cresceram 25% de um ano para o outro. Se a polícia aumentar o poder de investigação, a alta nos próximos anos será maior.

É grande o poder corruptor desses grupos. Há pouco, a PF apreendeu automóveis e joias de luxo, uma moto aquática e barras de ouro, além de dinheiro em espécie, no endereço de empresários que pagavam mesada a dezenas de policiais militares do Pará, para trabalhar na segurança e na logística do garimpo ilegal. Nos autos da Operação Cobiça, que provocou o afastamento de 35 policiais, o juiz federal do caso deixou registrado que as investigações constataram que um casal formado por um servidor público e uma enfermeira assalariada conseguiu em poucos meses comprar automóveis por mais de R$ 500 mil.

A expansão dessa fronteira do crime permite arranjos como o de pilotos de oito helicópteros que, junto com mecânicos, formaram um grupo para prestar serviço tanto ao garimpo ilegal quanto ao tráfico de drogas. A quadrilha foi desbaratada em março, mas não se pode garantir que outras não tenham se formado, atraídas pela possibilidade de altos lucros e a inexistência de risco de elevadas punições pela legislação sobre crimes ambientais.

Essa conjugação de baixo risco e alta recompensa estimula a criminalidade em todo o mundo. Relatório do Grupo de Ação Financeira Internacional (Gafi), entidade intergovernamental, estima que empreendimentos criminais contra o meio ambiente geram, a cada ano, entre US$ 110 bilhões e US$ 281 bilhões de receita, sendo a terceira atividade ilegal mais lucrativa, depois do tráfico de drogas e de armas. A experiência brasileira demonstra que há quem explore mais de uma dessas atividades ao mesmo tempo.

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