segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

SISTEMA DE TRANSPORTE PÚBLICO DO RIO PRECISA SER MAIS TRANSPARENTE

Editorial O Globo

Adiamento de novo bilhete eletrônico expõe obstáculo à integração das concessões municipais e estaduais

Na semana passada, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), anunciou o adiamento da operação exclusiva do bilhete eletrônico Jaé, que passará a ser o único aceito nos transportes municipais, como ônibus, BRTs, VLT e vans legalizadas, em substituição ao RioCard. A mudança estava prevista para fevereiro, mas ficou para julho. Ainda não se sabe como será feita a integração com os transportes sob gestão estadual. Irritado, Paes disse estar enfrentando “uma turma que é uma máfia”. As empresas alegam que os problemas na implantação são causados pela própria Prefeitura. O episódio demonstra mais uma vez as dificuldades para tornar o sistema de ônibus mais transparente e integrado na segunda maior cidade do país.

Atualmente os dados ficam concentrados numa empresa ligada às transportadoras, responsável por repassá-los à Prefeitura. Em tese, isso mudaria com a implantação do novo bilhete eletrônico. Quando o passageiro validar seu cartão na roleta, as informações serão transferidas para a Prefeitura. E o município repassará os valores às empresas de ônibus. A promessa é que esses números ficarão disponíveis num portal da transparência. Ter a noção exata dos dados do setor é fundamental, uma vez que o poder público subsidia o transporte com base no que é apresentado —no ano passado, foi repassado às empresas R$ 1,3 bilhão.

Paes alega que hoje o município não dispõe de informações detalhadas para planejar o sistema. Uma das queixas é não saber quantos passageiros são transportados a cada hora na cidade, informação importante para calcular a distribuição da frota ao longo do dia. As empresas costumam argumentar que repassam os dados pedidos pela Prefeitura. Os desentendimentos sobre aspectos importantes do transporte municipal mostram quanto ainda é preciso avançar.

Outro problema que o Rio não consegue resolver é a integração entre os diversos meios de transporte, essencial para facilitar a vida dos passageiros e permitir tarifas com desconto. As dificuldades para integrar o novo bilhete do município aos demais evidenciam políticas públicas equivocadas. Sabe-se que boa parte dos cidadãos precisa pegar mais de uma condução nos deslocamentos casa-trabalho-casa. Por isso mesmo, é necessário que as tarifas de metrô, trens, barcas, ônibus intermunicipais (que são concessões do estado) sejam integradas às dos ônibus municipais, VLT, BRTs e vans. De modo geral, não é isso que acontece.

Ao longo dos anos a falta de transparência tem sido a tônica no transporte público. É óbvio que essa responsabilidade não se restringe às empresas, mas também ao poder concedente, a quem cabe planejar e fiscalizar. A Prefeitura poderia ter mirado um sistema mais eficiente quando fez a licitação do serviço de ônibus em 2010, mas perdeu a chance. Município, estado e empresários precisam agora se entender sobre as mudanças, para o bem dos usuários. O único que não tem responsabilidade pelos problemas do setor é o passageiro, que, ao fim, é quem paga a conta.

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