Adiamento de novo bilhete eletrônico expõe obstáculo à
integração das concessões municipais e estaduais
Na semana passada, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD),
anunciou o adiamento da operação exclusiva do bilhete eletrônico Jaé, que passará a
ser o único aceito nos transportes municipais, como ônibus, BRTs, VLT e vans
legalizadas, em substituição ao RioCard. A mudança estava prevista para
fevereiro, mas ficou para julho. Ainda não se sabe como será feita a integração
com os transportes sob gestão estadual. Irritado, Paes disse estar enfrentando
“uma turma que é uma máfia”. As empresas alegam que os problemas na implantação
são causados pela própria Prefeitura. O episódio demonstra mais uma vez as
dificuldades para tornar o sistema de ônibus mais transparente e integrado na
segunda maior cidade do país.
Atualmente os dados ficam concentrados numa empresa ligada
às transportadoras, responsável por repassá-los à Prefeitura. Em tese, isso
mudaria com a implantação do novo bilhete eletrônico. Quando o passageiro
validar seu cartão na roleta, as informações serão transferidas para a
Prefeitura. E o município repassará os valores às empresas de ônibus. A
promessa é que esses números ficarão disponíveis num portal da transparência.
Ter a noção exata dos dados do setor é fundamental, uma vez que o poder público
subsidia o transporte com base no que é apresentado —no ano passado, foi
repassado às empresas R$ 1,3 bilhão.
Paes alega que hoje o município não dispõe de informações
detalhadas para planejar o sistema. Uma das queixas é não saber quantos
passageiros são transportados a cada hora na cidade, informação importante para
calcular a distribuição da frota ao longo do dia. As empresas costumam
argumentar que repassam os dados pedidos pela Prefeitura. Os desentendimentos
sobre aspectos importantes do transporte municipal mostram quanto ainda é
preciso avançar.
Outro problema que o Rio não consegue resolver é a
integração entre os diversos meios de transporte, essencial para facilitar a
vida dos passageiros e permitir tarifas com desconto. As dificuldades para
integrar o novo bilhete do município aos demais evidenciam políticas públicas
equivocadas. Sabe-se que boa parte dos cidadãos precisa pegar mais de uma
condução nos deslocamentos casa-trabalho-casa. Por isso mesmo, é necessário que
as tarifas de metrô, trens, barcas, ônibus intermunicipais (que são concessões
do estado) sejam integradas às dos ônibus municipais, VLT, BRTs e vans. De modo
geral, não é isso que acontece.
Ao longo dos anos a falta de transparência tem sido a tônica
no transporte público. É óbvio que essa responsabilidade não se restringe às
empresas, mas também ao poder concedente, a quem cabe planejar e fiscalizar. A
Prefeitura poderia ter mirado um sistema mais eficiente quando fez a licitação
do serviço de ônibus em 2010, mas perdeu a chance. Município, estado e
empresários precisam agora se entender sobre as mudanças, para o bem dos
usuários. O único que não tem responsabilidade pelos problemas do setor é o
passageiro, que, ao fim, é quem paga a conta.
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