segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

É CONTRAPRODUCENTE TABELAR JUROS DO CONSIGNADO

Editorial Folha de S. Paulo

Governo autoriza reajuste das taxas, o que parece deixar de lado controle populista que ameaçava a oferta do crédito

Com a autorização para aumento nas taxa de juros de empréstimos consignados a aposentados e pensionistas do INSS, o governo, por meio do Conselho Nacional de Previdência Social, dá sinal de que começa a deixar a política de lado em favor da realidade do mercado, em que o custo de capital sobe com a taxa Selic, do Banco Central.

O consignado é um tipo de empréstimo pago com desconto direto nos benefícios previdenciários ou na folha de salários. A legislação permite comprometer até 45% da renda mensal, sendo 35% com empréstimos pessoais, 5% com cartão de crédito e 5% com cartão de benefício.

Por ter risco baixo, o consignado se transformou numa das linhas de crédito mais baratas, com elevada penetração de mercado, razão pela qual o governo fará bem em manter o fluxo de novos empréstimos.

Para tanto é preciso fixar taxas realistas para as condições de mercado, capazes de remunerar o custo de captação dos bancos, a inadimplência e as necessidades operacionais, que incluem o pagamento de agentes terceirizados, como é comum nos bancos médios que não contam com rede de atendimento ampla.

As taxas de financiamento da modalidade passaram de 1,66% para 1,8% ao mês, ainda abaixo do pleito dos bancos, que pretendiam cobrar 1,99% ao mês. A justificativa do CNPS é que a nova taxa já significa 23,8% em termos anualizados, muito acima do patamar atual da Selic, de 12,25%.

É verdade, porém vale considerar que o custo de captação relevante para empréstimos de prazo longo é a taxa de prazo mais longo, atualmente mais próxima de 15% ao ano.

Aparentemente, o novo limite aprovado viabiliza a continuidade de desembolsos, ao permitir a volta de operações com captação terceirizada que haviam sido suspensas por vários bancos.

Também parece haver entendimento no governo de que os custos devem ser ajustados conforme a variação dos juros básicos, um bom sinal depois de vários meses em que o Ministério da Previdência adotava retórica de inspiração populista.

Também é preciso, além das taxas realistas, ampliar a concorrência e minimizar custos operacionais com ganhos de eficiência. Daí a importância de manter bancos médios e outros agentes nesse mercado, com vistas a evitar concentração indevida nas grandes instituições.

Melhor mesmo seria deixar que as taxas fossem fixadas a partir da livre competição. Intervenções artificiais nos preços sempre geram problemas de oferta.

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