Intimidação sobre Groenlândia, Canadá e o canal do
Panamá, embora pouco crível, implicará incertezas nas finanças e na política
globais
Prestes a tomar posse para o segundo mandato, Donald Trump se
exercita nas bravatas geopolíticas. O republicano falastrão faz insinuações
ameaçadoras sobre a Groenlândia, o canal do Panamá e o Canadá.
Ninguém que tenha acompanhado seu primeiro governo, batido
na eleição de 2020, deveria se surpreender com isso. Propagar intimidações
integra o código de vestimenta do populismo universal, seguido a rigor por
Trump.
Na década passada, o então estreante na Casa Branca prometia
endurecer com a Europa, a China e o
regime iraniano. Encenou uma pantomima
com o ditador norte-coreano a pretexto de pacificar o país comunista.
Os quatro anos da administração se passaram sem nenhum
grande feito da política externa norte-americana. Irã e Coreia do
Norte mantiveram a marcha belicosa, China e Rússia expandiram
sem embaraço as suas ambições de influência regional.
Agora a retórica
trumpista regride ao nacionalismo fragmentário do século 19, em que
cada potência se dedica ao seu quintal. Para deter chineses e russos no extremo
norte, o presidente eleito predica que os Estados
Unidos passem a controlar a Groenlândia dinamarquesa e, por que não,
também o Canadá.
Tomar posse da passagem
escavada entre o Atlântico e o Pacífico, hoje sob soberania do Panamá, também
seria uma medida necessária, segundo a cartilha ultrapassada, para evitar o
predomínio da China neste hemisfério.
A experiência do primeiro governo e as dificuldades práticas
da "agenda" recomendam não tomar ao pé da letra as quixotadas de
Trump. A tediosa e metódica execução das prioridades de governo não faz parte
do seu estilo.
O político a
ser empossado no próximo dia 20 não costuma se comprometer com nada
que não possa ser desfeito ou esquecido na manhã seguinte. O que mais lhe
importa é manter o frenesi das cruzadas imaginárias.
Nem sequer as promessas mais constantes, de dar um choque
nas tarifas de importação e na política
migratória, deveriam ser consideradas absolutas diante do óbvio risco
inflacionário, e portanto político, que implicam.
No front externo, as relações entre as nações estão hoje bem
mais esgarçadas do que quando Donald Trump assumiu o primeiro mandato, em 2017.
A margem para trapalhadas na diplomacia se reduziu e aumentaram os custos da
irresponsabilidade.
Custos e incertezas em elevação, nas finanças e na política
mundiais, é o que se pode esperar com maior probabilidade da segunda passagem
de Donald Trump pela Presidência dos Estados Unidos. Mesmo que ao final não
implemente as ideias destrutivas que aventou, ele no poder já é garantia de
instabilidade.
É uma pena que o governo do Brasil continue a endividar-se
como se não houvesse amanhã mesmo com um novo período de turbulências globais
no horizonte imediato. Há tempo, contudo, para aumentar as defesas.
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