segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

TRUMP REINAUGURA A ERA DAS BRAVATAS

Editorial Folha de S. Paulo

Intimidação sobre Groenlândia, Canadá e o canal do Panamá, embora pouco crível, implicará incertezas nas finanças e na política globais

Prestes a tomar posse para o segundo mandato, Donald Trump se exercita nas bravatas geopolíticas. O republicano falastrão faz insinuações ameaçadoras sobre a Groenlândia, o canal do Panamá e o Canadá.

Ninguém que tenha acompanhado seu primeiro governo, batido na eleição de 2020, deveria se surpreender com isso. Propagar intimidações integra o código de vestimenta do populismo universal, seguido a rigor por Trump.

Na década passada, o então estreante na Casa Branca prometia endurecer com a Europa, a China e o regime iraniano. Encenou uma pantomima com o ditador norte-coreano a pretexto de pacificar o país comunista.

Os quatro anos da administração se passaram sem nenhum grande feito da política externa norte-americana. Irã e Coreia do Norte mantiveram a marcha belicosa, China e Rússia expandiram sem embaraço as suas ambições de influência regional.

Agora a retórica trumpista regride ao nacionalismo fragmentário do século 19, em que cada potência se dedica ao seu quintal. Para deter chineses e russos no extremo norte, o presidente eleito predica que os Estados Unidos passem a controlar a Groenlândia dinamarquesa e, por que não, também o Canadá.

Tomar posse da passagem escavada entre o Atlântico e o Pacífico, hoje sob soberania do Panamá, também seria uma medida necessária, segundo a cartilha ultrapassada, para evitar o predomínio da China neste hemisfério.

A experiência do primeiro governo e as dificuldades práticas da "agenda" recomendam não tomar ao pé da letra as quixotadas de Trump. A tediosa e metódica execução das prioridades de governo não faz parte do seu estilo.

O político a ser empossado no próximo dia 20 não costuma se comprometer com nada que não possa ser desfeito ou esquecido na manhã seguinte. O que mais lhe importa é manter o frenesi das cruzadas imaginárias.

Nem sequer as promessas mais constantes, de dar um choque nas tarifas de importação e na política migratória, deveriam ser consideradas absolutas diante do óbvio risco inflacionário, e portanto político, que implicam.

No front externo, as relações entre as nações estão hoje bem mais esgarçadas do que quando Donald Trump assumiu o primeiro mandato, em 2017. A margem para trapalhadas na diplomacia se reduziu e aumentaram os custos da irresponsabilidade.

Custos e incertezas em elevação, nas finanças e na política mundiais, é o que se pode esperar com maior probabilidade da segunda passagem de Donald Trump pela Presidência dos Estados Unidos. Mesmo que ao final não implemente as ideias destrutivas que aventou, ele no poder já é garantia de instabilidade.

É uma pena que o governo do Brasil continue a endividar-se como se não houvesse amanhã mesmo com um novo período de turbulências globais no horizonte imediato. Há tempo, contudo, para aumentar as defesas.

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