População da maior metrópole do país encolhe, com impulso
da busca por melhores condições de vida em cidades vizinhas
Habituada a surtos de expansão populacional desordenada
desde o fim do século 19, sob o impulso do ciclo do café, das migrações e da
industrialização acelerada, uma das maiores
megalópoles do planeta aparenta, enfim, estar perdendo fôlego
demográfico.
Após atingir o pico de 11,5 milhões de habitantes em 2019, a
população da cidade de São Paulo vem encolhendo —o
que não ocorria há pelo menos um século.
Segundo dados da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise
de Dados), a capital paulista registra nos últimos anos uma queda sutil, porém
consistente, de 0,7% entre 2019 e 2023 (ou cerca de 80 mil pessoas a menos).
A três semanas de festejar os 471 anos de sua fundação, o
município ostenta o título de mais caro do país e avançou 28 posições numa
lista mundial de 226 cidades campeãs em custo
de vida (atualmente ocupa o 124º lugar).
O discreto êxodo urbano tem suas razões. A pandemia de Covid
impeliu moradores abastados para regiões adjacentes, com a conveniência
do home office, mas também elevou o número de óbitos. O envelhecimento da
população —com baixas taxas de natalidade— tem estimulado a busca por
maior qualidade
de vida em municípios menores.
A hipótese mais mencionada por analistas, contudo, é mesmo a
questão econômica. A escalada do custo de vida, influenciada mais recentemente
por inflação pressionada
e alta
do dólar, amplia os dispêndios com mobilidade, alimentação, saúde e
serviços diversos em uma metrópole adensada e desigual.
O advento do trabalho remoto oferece a muitas famílias a
oportunidade de viver nas cercanias de São Paulo —ainda com uma renda
paulistana, mas menos despesas com mensalidades escolares, moradia e lazer, sem
falar da sensação de segurança.
O desejo de respirar novos ares seduz a maioria: com medo da
violência, 55%
deixariam São Paulo se pudessem, indicou pesquisa Datafolha de 2022.
A ironia dessa movimentação inusual é que a alta dos preços
também já começa a acompanhar os novos moradores, sobretudo na especulação
imobiliária em cidades próximas no interior.
O fenômeno da
conurbação, quando há fusão entre duas ou mais cidades e forma-se uma
grande mancha urbana contínua, está em franco desenvolvimento num eixo de 100
km entre as duas maiores regiões metropolitanas do estado, São Paulo e Campinas.
No caso paulista, parece romper fronteiras geográficas e
econômicas, com impacto considerável no bolso de residentes.
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