sábado, 4 de janeiro de 2025

ÊXODO PAULISTANO MOSTRA NOVA DINÂMICA URBANA

Editorial Folha de S. Paulo

População da maior metrópole do país encolhe, com impulso da busca por melhores condições de vida em cidades vizinhas

Habituada a surtos de expansão populacional desordenada desde o fim do século 19, sob o impulso do ciclo do café, das migrações e da industrialização acelerada, uma das maiores megalópoles do planeta aparenta, enfim, estar perdendo fôlego demográfico.

Após atingir o pico de 11,5 milhões de habitantes em 2019, a população da cidade de São Paulo vem encolhendo —o que não ocorria há pelo menos um século.

Segundo dados da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), a capital paulista registra nos últimos anos uma queda sutil, porém consistente, de 0,7% entre 2019 e 2023 (ou cerca de 80 mil pessoas a menos).

A três semanas de festejar os 471 anos de sua fundação, o município ostenta o título de mais caro do país e avançou 28 posições numa lista mundial de 226 cidades campeãs em custo de vida (atualmente ocupa o 124º lugar).

O discreto êxodo urbano tem suas razões. A pandemia de Covid impeliu moradores abastados para regiões adjacentes, com a conveniência do home office, mas também elevou o número de óbitos. O envelhecimento da população —com baixas taxas de natalidade— tem estimulado a busca por maior qualidade de vida em municípios menores.

A hipótese mais mencionada por analistas, contudo, é mesmo a questão econômica. A escalada do custo de vida, influenciada mais recentemente por inflação pressionada e alta do dólar, amplia os dispêndios com mobilidade, alimentação, saúde e serviços diversos em uma metrópole adensada e desigual.

O advento do trabalho remoto oferece a muitas famílias a oportunidade de viver nas cercanias de São Paulo —ainda com uma renda paulistana, mas menos despesas com mensalidades escolares, moradia e lazer, sem falar da sensação de segurança.

O desejo de respirar novos ares seduz a maioria: com medo da violência, 55% deixariam São Paulo se pudessem, indicou pesquisa Datafolha de 2022.

A ironia dessa movimentação inusual é que a alta dos preços também já começa a acompanhar os novos moradores, sobretudo na especulação imobiliária em cidades próximas no interior.

fenômeno da conurbação, quando há fusão entre duas ou mais cidades e forma-se uma grande mancha urbana contínua, está em franco desenvolvimento num eixo de 100 km entre as duas maiores regiões metropolitanas do estado, São Paulo e Campinas.

No caso paulista, parece romper fronteiras geográficas e econômicas, com impacto considerável no bolso de residentes.

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